Vauxhall and I, de 1994, foi durante muito tempo o mais bem sucedido disco de Morrissey a solo. De facto, tirando talvez o seu primeiro álbum e os discos da sua última fase, após 2000, é possível entender-se o porquê. Temas como «The More You Ignore Me, the Closer I Get» ou «Now My Heart Is Full» são excelentes singles em qualquer portefólio. No entanto, o disco foi feito à saída de um período difícil de depressão. Talvez a canção que melhor resuma o disco e até o próprio Morrissey seja esta «Speedway». Numa música relativamente convencional – embora com arranjos interessantes – a sua letra e a voz de Morrissey falam de toda a solidão e cansaço do mundo, como só ele sabe fazer. A letra, aliás, fala de temas recorrentes na vida do artista: os rumores, as insinuações, as mentiras, a imagem que dele se constrói sem que ele tenha forças ou capacidades para se defender. «All of the rumors keeping me grounded / I never said, I never said / That they were completely unfounded”, canta ele, acrescentando que podia ter arrastado alguém com ele, podia ter feito de alguém «guilty by implication, by association», mas que, à sua maneira, sempre se manteve fiel. É um tema acerca da luta, acerca do cansaço dessa eterna luta, e do dia em que «a terra que me reclama, finalmente me tenha». Já no fim, a revelação. Morrissey, finalmente olhando-se no espelho reconhece: «And all those lies / Written lies, twisted lies / Well, they weren’t lies / They weren’t lies.»
O homem e o mito. Morrissey, no último tema de Vauxhall and I.