Soa a algo parecido com isto:
«Num carro desportivo clássico, vermelho porque é dos que anda depressa, cruzo uma estrada vazia que se encaixa entre a serra e a praia. Brilha o sol, está calor e o meu cabelo melado escorre, empurrado pelo vento, em direção à minha nuca. A luz do dia reflete-se nos óculos de sol e no branco amarelado da camisa suja de ressaca. É este o cenário da minha fuga, é este o caminho para onde me empurra o corpo depois de os problemas ficarem para trás, presos no trânsito.
A liberdade de encarar uma estrada desimpedida sente-se no meu sorriso, ouve-se pelo ar com cheiro a maresia e recomeço que me diz que vai correr tudo bem. Uma liberdade que é o mesmo que dizer felicidade. Um tipo de felicidade diferente: descaracterizado mas quente. Um misto entre revolta e orgulho que floresce quando o tempo está de chuva e toda a gente olha para ti de cara feia. Uma alegria infantil, delicada, onde uma crença cega me embala rumo a qualquer lado, não sei bem. Acho que nem é preciso saber. Segue-se em frente e é isso que faz valer a viagem. Afinal de contas ainda há sol, ainda há vento, ainda há serra e praia e ainda há caminho.”
Agora sirvam-me mais um copo e chamem-me Nancy – a música já toca.