A mediania do segundo álbum de Bowie (o homónimo de ’69) é compensada pelo seu single perfeito: o inventivo “Space Oddity”. É uma das raras canções em que Bowie se reporta à actualidade social do seu tempo, saindo pouco antes do primeiro homem ter pisado a lua, o que ajudou em muito à notoriedade da canção. De tal forma que a BBC a passou na transmissão televisiva à alunagem; uma enorme ironia já que o clássico de Bowie nada tinha de apologético. Pelo contrário, “Space Oddity” é uma história triste em que o astronauta perde o contacto com o comando terrestre, perdendo-se para sempre no espaço – uma metáfora do isolamento imposto por um mundo excessivamente tecnológico, tema típico da contracultura hippie que privilegiava a autenticidade e a natureza ao artifício das sociedades de consumo. Mas não seria no namoro com a cultura hippie que Bowie deixaria a sua marca. Só quando nos discos seguintes Bowie abraça a beleza da mentira e do artifício glam, é que ficará na história como o homem que enterrou os anos 60 e encetou uma nova década.
Canção do dia: Space Oddity – David Bowie
Ricardo Romano
"Um bom disco justifica sempre os meios”- defendeu-se Ricardo Romano, ao ser acusado de ter vendido o rim esquerdo da sua tia entrevada para comprar uma edição rara do Led Zeppelin II - o melhor disco de sempre. O juiz não se convenceu, mandando-o para uma prisão com condições desumanas, onde uma vez foi obrigado a ouvir do princípio ao fim um disco dos Creed. Actualmente em liberdade, cumpre pena de trabalho a favor da comunidade no site Altamont mas a proximidade com boas colecções de discos não augura nada de bom.
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