Boy Harsher são uma banda norte-americana algures entre o eletropop e o darkwave minimal. Chegam em 2019 com Careful em perfeito equilíbrio da synth pop.
Podemos começar por dar as semelhanças de caras, e dizer que é parecido com a parte mais negra de uns New Order, Human League, Yello, algumas coisas de Siouxie & The Banshees ou até de She Wants Revenge. Se preferirem, umas referências mais actualizadas serão Light Asylum, Linea Aspera, Xeno & Oaklander ou Essaie Pas, bandas que se movem nesta espécie de pista de dança com luz negra e bastante fumo, onde as casas de banho estão repletas de graffiti e alguém retoca o eyeliner num espelho partido num canto. Traduzindo, todos os melhores sons electrónicos fugidos dos anos 80, com o peso da gravidade e frieza da vida na década de 2010.
O mais difícil neste estilo de canções é fazer as batidas e sintetizadores soar distintos em cada composição, algo que este duo norte-americano faz com aparente facilidade. Se a primeira faixa “Keep Driving” é quase ambiente, “Face The Fire” ataca logo um lado mais pop, com sons mais apelativos ou orelhudos. Em dez músicas sentimos a claustrofobia sonora, na voz sem sentimentos de Jae Matthews e nos ambientes de Gus Miller.
A história do duo também é importante nas temáticas abordadas nas canções. Miller e Matthews envolveram-se romanticamente e, só depois, na música. Reza a história que ela se apaixonou ao vê-lo dançar “Bizzare Love Triangle” dos New Order. A seguir veio o fim do envolvimento romântico, que deu a Jae Matthews uma tatuagem onde se lê “Careful”, título deste disco. A banda continuou, e os temas de abandono e dor foram incorporados nas letras, por isso não é de estranhar frases como “you will hurt me either way” (“LA”), ou também “I left this place so long ago/but your face keeps it alive” (“Tears”) como se Matthews e Miller fossem só agora descobrir que os sentimentos podem magoar. “Crush” apresenta outro dos universos preferidos dos Boy Harsher, ambos estudantes de cinema. Uma faixa ambiente que podia ser parte de um filme de David Lynch, sempre com um certo grau de nervosismo e ansiedade. A última canção também partilha esse mundo, fazendo de Careful parte de uma banda sonora imaginária.
O disco trabalha no arame, entre as atmosferas mais negras e o lado mais pop que abraçam como parte da sua identidade. As canções são todas bastante apropriadas para a pista de dança, como já foi referido, mas também para uma clássica viagem de carro à noite, com os sons sincopados como analogia das luzes dos candeeiros públicos. Sem medo de enfrentar os sentimentos, Careful é um disco que alcança esse balanço da synth e da pop.