Nashville Skyline, o disco de 1969 de Bob Dylan, soa exatamente àquilo que vemos na capa.
É um Dylan soalheiro, convidativo e, arriscamos, mais agradável do que em toda a discografia que vinha erigindo. Um sorriso largo e descontraído com um toque no chapéu que nos diz: “Olá, amigo. Vem ouvir umas cantigas que tenho aqui para tocar nesta guitarra”.
“Mais agradável?!” poderá indignar-se o caro leitor, tendo toda a liberdade para o fazer, mas também dispondo de toda a liberdade para ser mandado continuar a ler o presente texto para perceber o que queremos dizer antes de tecer julgamentos antecipados que não lhe ficam mesmo nada bem! Sim, como dizíamos, “mais agradável”. Em canções como “Tonight I’ll Be Staying Here with You”, “Lay Lady Lay” ou “To Be Alone with You”, Dylan larga o seu tom anasalado e assume um tom de voz mais doce e meloso que terão menos probabilidade de ferir ouvidos menos suscetíveis.
A instrumentação é também ela mais leve neste seu nono disco quando comparada ao tom sombrio de John Wesley Harding, à esquizofrenia sonora de Blonde on Blonde, a agressividade de Highway 61 Revisited, a dualidade de Bringing It All Back Home, à austeridade de Another Side of Bob Dylan e The Times They Are a-Changin’, simplicidade de Freewheelin’ Bob Dylan e a rusticidade do disco de estreia. A isso se deve a guitarra pedal steel de Pete Drake, o quarteto de guitarra acústicas e o novo tom de harmónica assumido por Dylan, mais melódico e menos urgente.
Este é o primeiro disco de Dylan depois do assassinato de Martin Luther King Jr. e de Bobby Kennedy e consequentes motins. Mas Dylan já não estava interessado em ser a voz de uma geração. Queria fazer discos de country com o seu amigo Johnny Cash (e que belíssima versão em dueto de “Girl from the North Country”) e canções que agradassem ao maior número de ouvintes. E foi isso que fez, com um belíssimo disco que até pode desapontar um fã acérrimo do Dylan inicial, mas que pode perfeitamente convencer um não-crente.
Bom artigo. É bastante interessante ver (ainda) comentários sobre músicas e artistas menos badalados nos dias de hoje. Penso que esta edição especial se deve ao novo filme que surgiu agora nos cinemas, o que pode ser um bom meio para mostrar a novas gerações e públicos um dos maiores artistas e, possilvelmente, o maior letriste de sempre.
Seria curioso ver análises ou comentários a músicas em particular.
Cumprimentos.