“Blank Realm is a rock band out of Brisbane. The band is composed of 3 siblings and a spiritual brother.” Palavras desencantadas de vozes desconhecidas em esconderijos cibernéticos poeirentos, que, como muitos outros, soltam sopros soltos de informação acerca da banda ainda relativamente desconhecida no panorama musical. Parece uma descrição descabida, pateta, essencialmente inútil; no entanto, a realidade é que talvez a curiosa simbiose de irmãos de sangue e de espírito que constitui o quarteto australiano seja a primeira e última coisa a dizer sobre estes; pelo menos, acerca do seu mais recente trabalho, Grassed In.
Após Deja What (2010) e Go Easy (2013), álbuns que, embora consistentes, permanecem hermeticamente presos por um invólucro que não permite à banda despregar-se de uma sonoridade básica e pouco irreverente, o invólucro parece engrossar-se e sufocar numa fúria de assassino o seu mais recente trabalho.
A melhor maneira de descrever Grassed In é a seguinte; é chato. Ouvir este álbum de uma ponta a outra é uma chatice semelhante à chatice de se ficar a olhar para as falhas no tecto à espera que o sono se abata sobre as pálpebras. Não é gloriosamente aborrecido, ao ponto de nos sentirmos estupefactos com a capacidade de nos meter a bocejar dentro de escassos segundos, nem é agradavelmente entediante, a deixar um sabor a Sigur Rós nas lágrimas de cansaço. Chato não é necessariamente mau, também precisamos de música chata, seguramente, mas não é o caso da raça de chato de Grassed In.
Não que seja tudo mau, aliás, raramente tudo seria mau, e mesmo um álbum que fosse uma autêntica catástrofe poderia gozar de um certo estatuto garantido pela impressionante falta de qualidade, e não passaria despercebido. Posso ter-me antecipado ao condicionar o interesse da banda à sua constituição invulgar. A sua sonoridade é, também ela, invulgar, quando não se ficam pela imitação de riffs e melodias sem cor nem sal de todas as últimas sensações de indie-rock baratucho cuspidas para a cena musical na última punhada de anos. E ganham quando exploram uma estranheza psicadélica e remeter a um distante Mikal Cronin, a chamar pelo sonho e não apenas pelo sono – em faixas como “Falling Down The Stairs” e “Bulldozer Love”, que se vê graciosamente afogada pelos ferozes sintetizadores.
Em suma, retorno de mãos vazias à afirmação inicial. Três irmãos e um espiritual. Não que não tenham mais que se lhe diga, mas veremos se em breve os conseguiremos ouvir através da espessa protecção.