No passado ano de 2013, o coletivo brasileiro de nome Baleia fez-se ao mercado discográfico com o seu primeiro álbum. Desde sempre um território fértil, o Brasil mostra, mais uma vez, não ser só bom de bola. Na música, seja ela popular ou erudita, são mesmo imparáveis, capazes de nos maravilhar, mas também de nos envergonhar, tal a imensa quantidade de autores e projetos que vão produzindo diariamente. No mundo tão facilmente conectável em que vivemos, não é raro podermos conhecer alguns desses novos nomes, tendo acesso aos seus trabalhos de forma muitas vezes gratuita. Os artistas, aplicados em dar a conhecer os seus projetos, usam todos os meios ao alcance e apresentam-se, assim, a um mundo muito mais amplo, em busca de reconhecimento. Por vezes conseguem-no, como é o caso presente. O Altamont reparou neles, e prontificou-se a elogiar o seu primeiro esforço de longa duração. Chama-se Quebra Azul, e nas suas 8 faixas revelam inúmeras influências, mas também uma linguagem estilisticamente própria e de de interessante saliência.
Quando terminei a primeira audição de Quebra Azul, vários nomes surgiram na minha cabeça, embora me pareça mais seguro referir apenas alguns, porque nestas coisas sinto sempre que os meus ouvidos são facilmente contagiáveis e propensos à imaginação, e por isso mesmo, por vezes, pouco seguros. Mas para mim é claro que nomes como Wado, Carlos Careqa, Pato Fu, Los Hermanos (sobretudo na vocalização de “Jiraiya”, e nos acordes da canção, mas também noutros momentos do disco), serão referências da banda. Julgo possível, ainda assim, encontrar alguns trejeitos de Dirty Projectors, por exemplo. No fundo, e para além do referido, é bom perceber que estes Baleia se esforçam por ser eles mesmos, mantendo-se à tona das águas borbulhantes do universo indie alternativo brasileiro. Sou também sensível, e em larga escala, ao material cantável, à originalidade poética dos versos das canções, e neste particular também há boas surpresas. Na irreverente “Breu”, para não me alongar em demasia nos exemplos, gosto dos sentenciais versos inaugurais: “Pessoas são degustação devagar?/ Os corações sob pressão de uma invasão”. Ou, para dar apenas mais uma ideia do que se pode ouvir em Quebra Azul, este lindíssimo verso de “Despertador”: “Dormir é desistir – tão cedo e tarde demais”.
O universo sonoro deste grupo carioca é francamente inspirador, merecendo a sorte de uma atenção mais generalizada. Este pequeno contributo é, portanto, de elementar justiça, uma vez que novas vozes, novos sons, novas ideias vão escasseando no formatado horizonte musical destes tempos. Não será ainda um gigante dos mares da atual MPB (o nome Baleia levou-me a esta brincadeira com as palavras, como já devem ter percebido), mas serão capazes, num futuro que desejo próspero, de deixar marcas de contentamento aos ouvintes dos dois lados do Atlântico. Que assim seja, e que assim aconteça, inequivocamente .