Foram os instrumentos os reis da segunda noite do EDP Cool Jazz. Calaram-se as vozes, ouviram-se as guitarras, as teclas, baterias, baixos, contrabaixos e sopros. A noite foi dos Dead Combo e dos Badbadnotgood.
Pouco passava das 21:30 quando entraram em palco. Os dois guitarristas que bem conhecemos, um contrabaixista, um homem de nome Gui (não sei se vos diz alguma coisa) a tratar dos sopros e um baterista. Na noite de contornos meramente instrumentais, facto que sempre vai afastando muita gente que prefere a voz ao instrumento, foi bom perceber que o Parque Marechal Carmona estava muito bem composto. Bastante cheio até. Começaram com “Deus Me Dê Grana” e continuaram com “Mr. & Mrs. Eleven”. O blues-rock que tresanda a becos e ruas estreitas mal frequentadas insinuou-se da melhor maneira. Diga-se, não só pelo concerto de ontem, mas também pelo novo disco dos Dead Combo, que o duo vai conseguindo, de alguma maneira, reinventar o seu som, que pelas particulares características que possui, dir-se-ia não ter muito terreno diferente para desbravar. E mesmo não tendo, a verdade é que vão conseguindo trazer a público alguma diversidade, e isso nota-se e louva-se.
Os Dead Combo há muito que vão misturando sons de origens geográficas diferentes. Um bom exemplo desses caminhos ínvios por várias latitudes será “Cuba 1970”, onde os trejeitos do nosso fado combinam bem com os ritmos da ilha de Fidel. Foi um dos momentos da noite, aliás. Neste primeiro concerto, os Dead Combo foram, como sempre são, poderosos. Com o muito recente Odeon Hotel em carteira, o duo Tó Trips e Pedro Gonçalves mostrou, uma vez mais, que são mestres no que fazem. A portugalidade dos seus temas e dos seus sons, de tão evidente, delicia qualquer um, e ontem constatou-se de novo essa evidência. Percebe-se ainda melhor ao vivo o que dizemos, e os Dead Combo, apesar dos ótimos discos que têm, ao vivo transcendem-se, são ainda melhores. Concluindo, foi um ótimo “Desassossego” o que se viveu no concerto inicial da segunda noite do EDP Cool Jazz 2018.
Até que chegou a hora dos Badbadnotgood atuarem. Estes rapazes de Toronto são difíceis de catalogar. Na “guerra” das etiquetas, é fácil tentar disparar o tiro certeiro, mas é quase impossível acertar na mouche com uma só bala. Jazz de fusão? Post-bop? Jazz-hop? Hip-jazz? Jazz-funk? Nu-jazz? São em maior número as interrogações do que as certezas. O que Matthew Tavares, Alexander Sowinski, Leland Whitty e Chester Hansen fazem, se quisermos facilitar, é apenas isto: boa e bem animada música. Nisso, na arte de juntar sons e ritmos, os quatro canadianos dão cartas há já algum tempo e pela qualidade que têm foram a Cascais mostrar o seu jogo repleto de trunfos, jogando forte, claramente para ganhar. No entanto, Portugal já os havia visto triunfar no ano passado, em Paredes de Coura.
Os seus temas são longos, cheios de groove, como o que tocaram quase de início e que foi gravado com o amigo Kaytranada. Com forte participação do público (a pedido da banda) com palmas bem definidas e ritmadas, o tema foi ganhando asas, como se de uma viagem astral se tratasse. Ora alto, ora razante, o voo durou largos minutos, com direito a improvisações várias, voltando-se sempre ao ponto de partida. Muito bonito, sem dúvida! É jazz, mas também há nos Badbadnotgood uma certa atitude quase rock, por vezes mais dançante, mas sempre com um swing que nunca se perde pelos caminhos que as composições vão levando. A esse nível, o tema “Chompy’s Paradise” foi dos melhores do concerto. Alexander Sowinski, o baterista, foi sempre falando com o público e exigiu dele bastante participação. Houve boa sintonia e união entre artistas e aqueles que os foram ver tocar.
Com os seus ups and downs interpretativos (não há na expressão em itálico qualquer juízo de valor, note-se) esta é uma banda que resulta muito bem ao vivo, talvez até melhor do que em disco. Mas uma coisa é certa: são mesmo goodgoodverygood estes Badbadnotgood!