O segundo disco de Avi Buffalo é um tratado de indie-pop, misturando o sol da Califórnia com a intimidade de um quarto de adolescente
Em 2014, Avi Buffalo – o projecto do norte-americano Avigdor Benyamin Zahner-Isenberg – enfrentava o duro teste do segundo disco, isto depois do sucesso do álbum homónimo, de 2010. Esta estreia, quando Avi tinha apenas 20 anos, foi muito bem recebida e ajudou a Subpop, mítica editora de Seattle, a afirmar-se capaz de ir buscando novos talentos após a falência criativa do grunge.
Mal sabíamos nós que esse seria possivelmente o último disco de Avi Buffalo, até pela jovialidade que emanava das suas canções. Este segundo tomo, At Best Cuckold, pegou nas pistas dadas no primeiro disco e, em vez de expandir o som, deu-se uma espécie de retirada emocional. O som continua caloroso e solarengo, mas Avi leva-nos a um mundo de inseguranças, medos e paixões, típicos da adolescência, que ele próprio havia abandonado pouco tempo antes.
Mas, como sempre, o que conta são as canções. E, nos dois únicos discos de Avi Buffalo até agora, o que não faltam são maravilhas pop, que devem tanto aos Beach Boys como às melhores coisas de Vampire Weekend, passando pelo sentido melodioso de Elliot Smith, misturando doçura e electricidade em doses equilibradas.
At Best Cuckold é um disco viciante, exclusivamente à custa das suas canções. Ouve-se o disco, coloca-se novamente e, à segunda, já estamos a ficar conquistados pela extraordinária sensibilidade melódica de Avi Buffalo, que consegue meter em cada disco cinco ou seis canções bonitas, intensas e profundas, cada uma das quais prometendo mudar-nos a vida. Não é para todos, e é cada vez mais raro.
Ouça-se o som do Verão em “So What”, que abre o disco; a pura beleza pop de “Memories of You”, com direito a um belo solo de guitarra que Avi tão bem sabe fazer; a insegurança adolescente de “Can´t Be Too Responsible”; a pérola pop absolutamente perfeita de “Overwhelmed With Pride”, toda ela guitarra acústica, harmonias vocais de puro açúcar, cordas serenas e discretas; ou ainda a cinematográfica “Oxygen Tank”.
Em 2015, o jovem Avigdor anunciou que o projecto Avi Buffalo tinha terminado, pelo menos durante uns largos anos. De lá para cá, participou noutros projectos, dedicou-se à pintura e, em 2019, lançou um disco electrónico em parceria com Ari Prado. Mas parece que Avi Buffalo está, afinal, vivo. A 1 de Dezembro de 2019, é divulgada uma música nova, “Skeleton Painting“, recuperando o nome Avi Buffalo. Ainda antes disso, esteve no festival de Paredes de Coura e falou longamente – inclusivamente sobre nova música (e também sobre queijo!) – para o Made of Things, nosso parceiro no Altamont, cujo vídeo pode ser visto aqui.
Não sabemos para onde irá Avi Buffalo ou se alguma vez editará novamente sob este nome. O que sabemos é que os dois discos que colocou cá fora, como este fantástico At Best Cuckold, já lhe garantiram um espaço nos nossos corações e regressos constantes aos nossos ouvidos.