Um dos grandes vultos da música brasileira decidiu fazer uma mini-digressão pelo nosso país nos últimos dias, tendo passado por Aveiro, Braga, Viseu e Lisboa. A capital, para além de ter beneficiado de duas datas no Teatro São Luiz, foi também a escolhida para a gravação do show, que resultará no DVD que acompanha a turnê actual, relativa ao álbum Já É (2015).
Não foi portanto de estranhar que o corpo do setlist fosse constituído pelas músicas deste álbum (que é o 14º de Arnaldo a solo), das quais destacamos a bem mexida “Põe Fé que Já É” (que serviu logo de arranque). Outras tais como “Naturalmente, Naturalmente”, “Óbitos”, “Dança”, “Se Você Nadar”, “Na Fissura”, foram então também apresentadas ao público português pela primeira vez, sendo que há que salientar que escrevo público português, mas na realidade a sala estaria, pelas minhas contas, preenchida a meias entre portugueses e brasileiros que por cá andam (de forma temporária ou permanente, isso não consegui descodificar, a minha capacidade intuitiva não vai tão longe). A adicionar às mencionadas acima, destaque para algumas músicas já bem conhecidas de álbuns anteriores, como “A Casa é Sua” (Iê Iê Iê) e “Ela é Tarja Preta” (Disco), e, claro, “Socorro” (Um Som).
Como todos sabemos Arnaldo é cantor de corpo inteiro, mas o seu crivo passa também por escrever músicas que ficaram conhecidas pela voz de outros, caso por exemplo de “Vilarejo”, escrita para Marisa Monte, e que foi apresentada em dueto com uma das convidadas da noite, Carminho (que ao que parece anda imersa nos meandros da música brasileira, ainda há uns meses partilhou palco com Marisa Monte). Hélder Gonçalves e Manuela Azevedo dos Clã foram outra das surpresas da noite, tendo participado em duas canções, uma de Arnaldo, outra apresentado a sua famosa “H2omem”. E não seria concerto de Arnaldo sem duas das músicas que marcam a sua carreira, inseridas no projecto Tribalistas, “Passe em Casa” e “Velha Infância”, que foram as que mais aqueceram o público.
Foi um concerto sem momentos inesquecíveis mas bastante caloroso que o ex-Titã apresentou, talvez também derivado da gravação do tal DVD. Deste facto resultou um momento curioso, dado que findo o concerto, e já com algumas pessoas a abandonar o espaço, Arnaldo volta a palco informando que por causa da gravação teriam de tocar novamente duas músicas que não terão ficado como desejado. Tivémos portanto direito a bónus, que a grande maioria aproveitou para ter um gostinho final de Arnaldo Antunes e poder ir para casa com sorriso na face.