Reflections é uma compilação que serve de montra para o extraordinário mundo de Anoushka Shankar, onde a cítara e as tablas da música indiana dialogam com o flamenco, com a pop e com toda a humanidade
Anoushka Shankar será sempre a filha do grande mestre da cítara Ravi Shankar, mas há muito que conquistou o direito de ser conhecida pelo seu grande mérito próprio. Partindo do seu instrumento de eleição – lá está, a familiar cítara – Anoushka cria conceitos e universos musicais que fogem aos lugares-comuns da “world music”. A crise dos refugiados, o Brexit, o ódio político e religioso são alguns dos temas que tem explorado – como no magnífico Land of Gold, de 2016. E musicalmente acontece o mesmo, a exploração de novos terrenos, progressivamente em diálogo com outras linguagens, outras músicas, outros universos completos.
Isso é eloquentemente notório neste Reflections, uma compilação que cobre os seus vários discos desde 1990 e que serve de montra de uma artista extraordinariamente multifacetada e que, apesar disso, consegue manter sempre o seu som e a sua identidade, mesmo que ao serviço de exercícios que não seriam necessariamente os seus.
É essa a inquietação que a levou a colaborações com Nitin Sawhney, Vanerra Redgrave, Javier Limón ou a sua meia-irmã Norah Jones, todas elas presentes neste olhar pelo retrovisor. Está também aqui uma parceria com o pai, Ravi, na fantástica “Pancham Se Gara”, um dos momentos mais bonitos e plácidos deste disco. E o que dizer da fusão entre música indiana e o flamenco, como podemos ouvir em “Buleria con Ricardo”, contando com a ajuda de Pedro Ricardo Miño?
O mundo de Anoushka Shankar é um feitiço que se nos cola, que consegue soar ao mesmo tempo moderno e intemporal. Reflections é uma excelente porta de entrada para quem não conhece bem esta artista. Mas, mais do que isso, é um delicioso banho de música, que nos emociona e nos lava a alma.