Ska punk veraneante e despretensioso, que tem o dom de captar um estilo de vida.
No início dos anos 90, o sucesso de Nevermind democratizou o rock alternativo, correndo por todo o lado uma lufada de contracultura fresquinha. A angst sincera do grunge fora o antídoto perfeito para a alegria de esferovite dos anos oitenta. Mas em ’94 Cobain leva a urbano-depressão longe de mais, dando um tiro na cabeça.
O punk pop divertido dos Green Day e dos Offspring, bem como o ska punk veraneante dos Sublime, foi a resposta aos excessos macambúzios do grunge. Os adolescentes respiram de alívio: estão outra vez autorizados a sorrir. 1996 foi o auge da festa ska, o terceiro dos Sublime era a música do momento.
A ironia é que quando o LP é lançado, Bradley Nowell, símbolo máximo desta vitalidade anti-angst, está… morto. O pessoal estava tão sedento de good vibes que ninguém acreditou realmente no sucedido. Como “morto” se aparecia todo sorridente na televisão a cantar “love is what I got”? Como uma overdose da mais anti-social das drogas se Nowell era o tipo mais social do quarteirão, sempre correndo de festa de garagem em festa de garagem com o seu dálmata bonacheirão? Não, só podia ser um boato maldoso; Brad estava vivo algures no sul da Califórnia, rindo com as suas piadas de mau gosto sobre date rapes e prostitutas de 13 anos, curando as suas ressacas com surf e espuma do mar, ensinando o seu filhote de um ano a enrolar um joint, desenhando para a sua cara-metade corações com linhas de coca.
A grandeza dos Sublime está aí, em captar em canções um estilo de vida: rebelde mas bem-disposto, apunkalhado mas veraneante, irresponsável mas doce, politicamente incorrecto mas inocente, auto-destrutivo mas festivo. Mais: o seu party punk é ecuménico. Todos são bem-vindos à festa: punks, skaters, rastas, dreads, surfistas, junkies. Esta reunião de tribos traduz-se na própria estética do disco, uma fusão elegante entre ska, punk e hip-hop. Os Sublime – em conjunto com outros pioneiros como Beck e os Beastie Boys – fizeram dos nineties a década anti-sectária por excelência. Só por isso, a sua influência é incalculável.
Nada disto interessaria se não houvesse grandes canções. Acontece que não há por aqui um único tiro ao lado, são só clássicos em catadupa como “What I Got”, “Wrong Way”, “Santeria” e “Doin’ Time”, uma espécie de “greatest hits” disfarçado de álbum de estúdio. Os discos anteriores já enxertavam o hardcore com sabores jamaicanos, já nos surpreendiam com as suas guinadas de peso e velocidade, já tinham aquela voz quase-negra cheia de nuances, já tudo pintalgavam com as batidas e scratches do hip-hop da velha guarda. Faltavam-lhes apenas as melodias orelhudas do álbum homónimo, canções que ainda hoje cantarolamos no chuveiro.
Infelizmente, foi muito breve o namoro do mainstream com o soalheiro ska punk. Depressa voltou a neura, desta vez com a invasão bárbara do nu-metal. Resta-nos a doce memória do Verão de ’96, quando, por breves momentos, o bom gosto e a boa onda caminharam lado a lado.