Alexandre Monteiro acaba de lançar o quarto álbum de estúdio. Eyeglasses for the Masses foi o ponto de partida para uma conversa com o músico que conhecemos como The Weatherman. Entre outros aspectos curiosos, ficámos a saber que vai dar um concerto para macacos.
Que título é este, Eyeglasses for the Masses,explica alguma coisa sobre o disco?
Eu acho que explica tudo. Acho que este é o disco que tem uma mensagem mais forte e mais clara, é uma mensagem de mim para as pessoas, em específico para o meu público. Eyeglasses for the Masses, eu sempre tive este título, que já me acompanha desde o tempo em que eu nem sequer era The Weatherman, sempre tive esta ‘visão’, digamos assim, sempre quis ter um disco com este nome.
É uma espécie de filtro da realidade?
Sim, eu não queria que fosse interpretado como algo arrogante da minha parte, mas sinto que tenho algo a dizer às pessoas. Isso pode ser interpretado de várias maneiras, mas se calhar eu estou a pegar um bocado no colarinho do público.
Antes do disco, lançaste dois singles – “Ice II” e “Calling All Monkeys” – porque é que estas canções surgiram em avanço, alguma delas é mais identificativa do resto do álbum?
Elas são as duas músicas completamente diferentes uma da outra, mas por incrível que pareça, sim, elas têm as duas a ver com o resto do disco. O “Ice II” tem a ver musicalmente, é uma boa porta de entrada, se conheceres a sonoridade do “Ice” vais conhecer um bocado do resto. A “Calling All Monkeys” encaixa no disco, não musicalmente, mas mais pela ideia do que está por detrás da música, é uma espécie de alerta vermelho sobre aquilo que a humanidade está a fazer, em relação ao planeta e a si própria, depois fala sobre corrupção e blá blá blá. Portanto, são duas músicas completamente diferentes uma da outra, mas encaixam no conceito do Eyeglasses for the Masses.
A “Calling All Monkeys” fez-me lembrar um single do teu disco anterior, “Proper Goodbye“, que tinha um videoclip com um astronauta. Há aqui um universo extra-planetário que te acompanha?
Por acaso não tinha pensado nisso, mas sim, a cena do astronauta sempre foi uma coisa que me acompanhou, digamos que é um imaginário que sempre fez parte e eu sempre pensei muito no futuro, aliás a ideia do videoclip para o “Calling All Monkeys” foi praticamente toda minha, imaginei como é que seria daqui a uns anos, a possibilidade de o homem já estar extinto… Eu acho que isso no fundo são formas de eu conseguir exercitar bem a minha imaginação.
O disco foi todo composto por ti ou recrutaste algumas pessoas, há participações externas?
Sim, a nível das pessoas que gravaram, há uma novidade neste disco, em relação aos outros todos, em que é a primeira vez – e isto aconteceu por acaso – em que a banda que toca no disco vai ser exactamente a mesma que vai tocar em concerto, portanto isso já significa que o som vai ser muito aproximado, o que vou fazer ao vivo vai ser muito próximo. A banda é completamente nova.
Eles moldaram muito do esqueleto das coisas?
Não, eles acrescentaram. E posso dar um exemplo muito bom que é o trabalho das guitarras eléctricas, neste disco está muito melhor, acho que se pode dizer isso, do que nos outros discos, e isso teve a ver directamente com o contributo do meu novo guitarrista [Alex Almeida], que foi fundamental para esculpir o som deste disco.
Depois o disco foi produzido por ti e masterizado fora [ Magic Garden, por Brian Lucey no, que masterizou recentemente os novos discos de Last Shadow Puppets, Cage the Elephant, The Arcs ou Black Keys]. Como é que conseguiste este contacto?
Isso hoje em dia é fácil, através da internet. Mas o nome do Brian Lucey veio à baila quando estávamos a terminar as misturas, estávamos a discutir aquilo que se podia fazer em termos de som final para a coisa, e estávamos a falar que este disco tinha algo de diferente dos anteriores, ou seja, tinha um músculo ali algures entre o baixo e a bateria, uma coisa especial, e achámos que seria boa ideia que a pessoa que fizesse a masterização, que conseguisse dar ênfase a isso. E pronto, como ele já tinha trabalhado com os Black Keys, especialmente, acho que foi uma boa aposta.
Ouvindo o disco do princípio ao fim, fiquei com a sensação – podes concordar ou não – que é ainda mais solarengo e pop que os anteriores.
Ainda mais? (Risos) Sim, acho que se pode dizer que sim, se não descurarmos o lado mais melancólico, que não sei se as pessoas associam esse lado a chuva ou a sol, ainda não percebi. Mas acho que isso é uma coisa muito interior. Eu estava a ver ontem uma entrevista com o Brian Wilson e ele dizia isso, o processo de songwriting é uma cena que vem mesmo das entranhas, tu não sabes explicar assim muito bem por que é que o fazes, mas acho que isso tem a ver com a minha sensibilidade, algures, a minha procura, acho que no fundo estou a procurar lugares e a oferecê-los às pessoas, lugares onde se sintam de alguma forma confortáveis, e sem dúvida que esses lugares devem ser muito solarengos.
Ao vivo, já disseste que vai ser com a banda que gravou o disco. Já tens datas de concertos, sim?
A primeira apresentação do disco vai ser no Passos Manuel, no Porto, dia 21 de Maio. Depois venho a Lisboa só em Junho, dia 23, e entretanto estou a preparar uma coisa que acho que pode ser bombástica. Estou a preparar um “happening/apresentação” no Jardim Zoológico, vou basicamente dar um concerto para os macacos. Estou a pensar fazer um live streaming e tudo. Há que pensar “out of the box”, nestes dias [Vai ser no Zoo da Maia, dia 16 de Maio às 16h].