E se o Newton não tivesse levado com a maçã? E se o Ricardo não tivesse saído da baliza de olhos fechados na final do Euro 2004? E se? E se? E se? A vida é feita de “E se’s”, disso todos já sabemos ou, pelo menos, suspeitamos. Chamem-lhe destino, sorte ou acaso, a verdade é que a magia do imprevisto, da incerteza, têm o condão de nos fascinar ou deixar quase loucos. “Talvez devia ter ido antes por ali…”, “Nunca devia ter escolhido aquilo…”O nome disto não o sei, e para já não interessa à conversa.
No último dia 17 de Novembro deste já velhinho 2013, fui ver Local Natives ao vivo. Despertam-me um moderado interesse, conheço mais ou menos a sua discografia mas, mesmo assim, pensei: “Vamos nisso.”
Chegado ao recinto, depois dos já habituais cruzares de caras que já vou reconhecendo destas andanças, aproximo-me do palco. Sitio escolhido, cerveja na mão e rodeado de amigos ponho-me ao dispor de quem vou ver nesse palco, agora mal iluminado e salpicado de luzes que piscam do material eletrónico.
“Quem vai abrir?” Pergunto.
“Uns Cloud qualquer coisa” Respondem-me.
Pronto, mais um daqueles grupos de qualidade duvidosa que vai servir para aquecer as palmas das mãos ao público, pensei eu, ainda numa total ignorância de toda e qualquer informação que se associasse à banda que ia abrir Local Natives.
Luzes para lá, luzes para cá, e lá vêm eles. Do cantinho da sala começam a entrar os Cloud Control, a banda australiana que estava prestes a ouvir pela primeira vez. Hoje posso dizer que seria a primeira de muitas. Um alternar frenético de harmonias alegres a puxar para o rock psicadélico começam a esponjar-se pela sala. O público está surpreendido, nota-se bem, vão cantando refrões mal-amanhados e divertem-se. Estão conquistados. E eu também.
Acabaram a sua performance e convidaram o público a juntar-se a eles no final do concerto. Essa foi a minha deixa. Ia lá ver o que podia “pingar”.
Concerto acabado, luzes acesas e copos de cerveja no chão. Por hoje era tudo, menos para mim. Furando a multidão, consegui ver a Heidi (teclista Cloud Control): aproximei-me, esperei pelo desafoguear dos groupies selvagens, e perguntei-lhe se nos podia dar uma entrevista. Com um sorriso na cara respondeu:”Of course we can, let me just get my brother Ulrich (baterista Cloud Control) and we will be right with you.” E assim foi. Podia ter-me borrifado na banda de abertura, podia não ter prestado atenção à sua música, podia não ter ouvido o convite à conversa que lançaram no final da atuação, podia não ter ido ter com eles, podia até nem ter ido ao concerto. Podia muita coisa. Mas a verdade é que fui, valeu a pena e aqui fica o resultado da nossa conversa. A prova de que não há nada do que desafiar os “e se’s”.
“When in doubt… don’t”
Benjamin Franklin
Altamont: Vocês já andam em digressão com os Local Natives à já algum tempo, como tem sido?
Heidi: Bem tem sido a tour mais comprida que já fizemos com a mesma banda e ainda não nos fartamos das músicas deles por isso acho que é um bom sinal (risos). Mas eles são cinco estrelas, ótimos companheiros. Agora mesmo o nosso baixista e o Nick o baixista deles estão no autocarro a ver um jogo de futebol americano, por isso é que não está aqui a ajudar a arrumar as coisas. (risos) Mas sim, tivemos oportunidade de tocar em imensos sítios onde nunca tínhamos estado como Estocolmo, Lisboa, que é linda a propósito, adoro a arquitetura da cidade.
E de esses sítios todos, qual foi aquele onde gostaram mais de tocar?
Heidi: Madrid, provavelmente. Hoje foi incrível também. Roma também foi muito bom. Esses três foram super especiais. O público é muito vocal. E não sei se vocês têm noção disso mas nunca tinha ouvido tanto bater de palmas como hoje. Todas as músicas vocês não se cansam de aplaudir. Isso é habitual por aqui? (risos) Mas são muito bons, muito coordenados e tudo.
E esta pode-se dizer que é a primeira digressão “a sério”?
Heidi: Bem não é a primeira, já tivemos em várias, mas esta é a primeira mesmo grande. Já tivemos em vários sítios da europa com os The Drums, por exemplo, há uns anos. Já fizemos as nossas próprias tours pela europa também, mas nada muito grande, ainda não temos envergadura que permita isso.
E o que acharam do público português para além de serem ótimos “clappers” (clap- bater palmas em inglês)?
Heidi: Ótima! Quase inesperada. Sentimos que vocês realmente ouviram-nos, não foi daqueles concertos em que nos tornamos banda sonora de um grupo de gente que está a beber copos. Hoje foi 100% concentrado no palco e foi muito fixe.
E que música têm ouvido ultimamente?
Heidi: Nós ouvimos muita coisa, ultimamente temos ouvido muito Doom, gangster rap. Também gostamos muito do último dos Arcade Fire, apesar do Ulrich (baterista) não estar totalmente convencido. E qual foi o nome daquela banda que estávamos a ouvir no autocarro no outro dia (dirigindo-se ao Ulrich).
Ulrich: Não faço ideia, estava a dormir!
Heidi: É inacreditável, eles, só hoje viram três filmes de terror no caminho de Madrid até Lisboa.
Ulrich: Um deles foi o Snakes on a Plane… daqueles tão maus que são bons. (risos)
E que bandas têm como referência?
Heidi: Acho que é consensual: os Yo La Tengo. Eles andam por ai há décadas sempre a um nível altíssimo. Eles são provavelmente os nossos favoritos.
E planos para o futuro?
Ulrich: Digressões e mais digressões, pelo menos por agora. Ainda temos mais três ou quatro meses de tournée e depois… álbum novo!
Heidi: Qual era o nome daquele festival espetacular que eles fazem cá?
Ulrich: Primavera acho eu….
Heidi: Isso, gostaríamos imenso de atuar ai… vamos ver como as coisas correm.