São um dos mais bem guardados segredos da música nacional. Teclas, bateria e guitarra, 3 Lobos (Norberto, João e Manuel) e uma vida de cumplicidade, são os ingredientes da receita perfeita. Por razões várias, Norman ainda não chegou ao chamado “grande público”, mas com a ajuda de Manuel Mesquita(Lobo, aka Garcia da Selva) começamos agora a ter acesso ao mapa do tesouro.
Norman é um segredo muito bem guardado, talvez bem demais. Por isso quero começar pelo princípio, peço-te que me contes a história desta banda.
Os Norman são o Norberto, o Manuel e o João, portanto começa por ser uma palavra feita a partir de letras dos nossos nomes, é uma espécie de construção de um nome, e não tanto a escolha de um nome inglês. Eu sou irmão do Norberto, sempre tocámos muito juntos, e posso dizer que Norman foi das nossas primeiras bandas, com o João Lobo. E a história explica-se assim, temos passado estes anos tocando intermitentemente, porque tanto no Norberto – por causa da sua vida profissional – como o João – que vive no estrangeiro – vamos tocando na medida das disponibilidades de cada um, quando os três nos encontramos. Lançámos um disco em 2009, é um disco homónimo, somos uma banda instrumental, sobretudo, de influências várias – não te consigo dar assim uns “hashtags” para as nossas influências, mas é isso. Temos coisas novas preparadas para o Magafest, que nos enviou este convite para tocar e eu fico muito contente. Vamos percorrer malhas do nosso panteão e acho que vai ser um grande concerto, num lugar tão especial como o Palácio Sinel de Cordes.
E esta não vai ser a vossa primeira passagem por este universo das MagaSessions/Magafest, já têm alguma afinidade.
Sim, sim, muita. A Inês, para já é nossa amiga pessoal, é daí que vem também a nossa colaboração, ajudamo-nos uns aos outros, já participámos todos nas MagaSessions, cada um a solo e com outros músicos – basta ver a longa lista de concertos que já lá passaram para perceber como é que músicos desta grande família se vão distribuíndo por projectos diferentes e ajudando, uns aos outros, a fazer boa música. MagaSessions é uma espécie de segunda casa, um lar sónico.
Falava há pouco de Norman como um segredo muito bem guardado – por que é que isso acontece?
O que explica o segredo, ou o desconhecimento que muitas pessoas terão da banda, é apenas o facto de estarmos pouco juntos, portanto não tocamos mais vezes. Se me perguntares se gostaríamos de deixar de ser um exclusivo de algumas pessoas que nos conhecem, claro que sim! Isso depois também dependerá da frequência com que tocarmos e da qualidade que conseguirmos mostrar, tanto ao vivo como no próximo registo gravado – que não tem data marcada mas que pode vir a acontecer brevemente. Por causa do Magafest, temos estado um bocado mais juntos do que é habitual. Mas é isso, não há uma estratégia de emancipação e fazer mais coisas e tocar mais e gravar mais, como também não há uma estratégia de manter um “low profile”. Foi a vida que nos trouxe para este lugar, mas a música continua a ser tocada e feita, e é Norman e, dito com alguma modéstia, é a melhor banda do mundo!
[bandcamp width=100% height=120 album=343918967 size=large bgcol=333333 linkcol=0f91ff tracklist=false artwork=small]
Sobre o vosso disco de 2009, estão lá uma série de elementos, guitarras quase folk, electrónicas quase trip hop, uma boa dose de jazz. Como é que é feita a música de Norman, juntam-se para tocar e é o que sair, há coisas escritas?
É uma boa pergunta. O método não tem variado muito ao longo dos anos. As músicas aparecem, há uma ideia que é lançada por um de nós e depois a partir daí, cada um tem a sua especialidade – eu tenho o meu tijolo branco e preto, e vou metendo ali as teclas e tal – e tem muito a ver depois com ensaios, as coisas nunca ficam fixas, não somos muito rígidos com o A-B-C-D da música. Depois também gostamos de tocar músicas que só têm A. Não há um método, mas sim, normalmente parte de uma espécie de larva, que é uma ideia de alguém, e depois segue esses passos todos, crisálida, etc, e depois voa e é uma música nova.
E isso acontece tudo muito naturalmente, existe entre vós um grande entendimento musical?
Sim, nós temos uma empatia, chamar-lhe-ia sobrenatural, que depois nos permite fazer coisas à volta desse momento fundador [de uma canção]. Tem a ver também com o facto de sermos amigos e nos conhecermos há muitos anos, vai fazer não tarda 20 anos que começámos a brincar, em estúdio. É bom lembrar, Japestudios, em Sacavém, muita gente da zona da grande Lisboa tocou lá, nós lembramo-nos muito desse lugar, embora nunca mais lá tenhamos voltado, pelas razões que já mencionei. Mas sim, foi nesse estúdio, na proximidade do tabuleiro da Ponte Vasco da Gama, que nascemos, formalmente, algures em 1998-99.
Já vem de longe essa cumplicidade entre vocês os três.
Sim, e muita coisa aconteceu aos três e é também bom ver, sobretudo no caso do Norberto e do João, que seguiram caminhos que tanto abraçam o conjunto como a música a solo. Estou em crer que o João Lobo deve estar para breve o lançamento do disco dele a solo, Garcia da Selva, o meu alias a solo, também tem muita coisa pronta para meter em disco, portanto vai-se andando e às vezes encontramo-nos numa área de serviço, que neste caso é o Magafest.
Esta pergunta é sempre chata de fazer, e de responder, mas nós tendemos sempre a categorizar. Ainda assim, e para quem nunca ouviu, como é que descreves a música de Norman?
Norman são os quatro elementos, Terra Ar Vento e Fogo, uma pitada de ervas do nosso jardim vertical, e engenho e criatividade de cada um.
Em relação ao Magafest, já vão apresentar coisas novas?
No fundo é tudo novo. Também como não nos encontramos há muito tempo, o último concerto que demos já foi há 3 ou 4 anos, muita coisa aconteceu desde então. É normal quando começamos a ensaiar, queremos tocar coisas novas, e as velhas de uma maneira nova. Não posso levantar o véu porque também não sei muito bem explicar que coisas novas vão ser essas, nem como é que vão acontecer. Acredito sim que a experiência geral de quem vir o concerto, vai ser uma experiência nova, porque como disseste, é uma banda envolta num certo mistério.
E existem ideias para editar um novo álbum? Vontade acredito que haja, mas já têm planos concretos?
Não, sinceramente não. Norman quer conquistar o mundo, mas isso vai demorar muito tempo, não é para agora. Nada a indicar quanto ao próximo registo, apenas fica a promessa de uma noite bem passada na nossa companhia, e dos outros músicos que estarão connosco [no Magafest].