Estivemos à conversa com os Linda Martini aquando da sua tournée pelo norte de Portugal que promoveu um regresso às origens em espaços pequenos mas de grande proximidade com o público. Estas foram as respostas às nossas perguntas:
Altamont: Em relação ao vosso último disco, porquê Turbo Lento?
Pedro: foi um nome que arranjámos na altura quando estávamos a acabar o disco, e falámos de nomes que achávamos piada e foi por aí, não tem uma grande explicação.
Onde é que vos falta tocar?
Hélio: Nós nunca tivemos assim grandes listas… Havia um festival que gostávamos de tocar e acabámos por o fazer, no Optimus Primavera Sound. Cláudia: Mas não foi bem aquilo que esperávamos, tocar às 5 da tarde num festival onde não nos conhecem não é muito agradável.
Nas vossas canções nota-se uma grande preocupação com a palavra, aquilo que vocês dizem. Isto sempre foi um objectivo, acham uma parte importante de um bom tema, a letra?
André: Nós no inicio da banda éramos mais instrumental, não tínhamos tanta voz e acabamos por crescer. Mas nós só as colocamos se sentirmos que elas fazem sentido lá.
Quais são as vossas inspirações?
Cláudia: Tudo o que nos rodeia. Acho que não há nada de específico, é a vida de cada um, tudo aquilo que nos rodeia. Hélio: Musicalmente não és só fruto da música que ouves, mas sim de tudo o que te rodeia.
Foram considerados recentemente, uma das 10 melhores bandas de rock portuguesa, à beira de nomes como José Cid, Xutos & Pontapés e Rui Veloso… Como recebem notícias destas?
Pedro: Com muita amargura, sinto que não deviam os estar ao lado mas acima deles (risos). Óbvio que ficamos contentes! Mas claro, da mesma forma que não nos deixamos atingir demasiado quando as críticas são muito negativas, também não empoleiramos quando elas são boas, mas é óbvio que sabe muito bem!
Onde foram buscar o nome Linda Martini? Já ouvimos falar de uma estudante italiana…
Pedro: Exactamente! Foi isso… Nós já tivemos outro, mas arranjamos este que era melhor (risos).
E qual foi o outro?
Hélio: Só nós os quatro sabemos! Nem as nossas namoradas sabem. Se quiserem descobrir tentem encontrar o Sérgio!
Acham que um nome que fique no ouvido é essencial para o sucesso de uma banda?
Cláudia: Eu acho que sim, ajuda muito. Pedro: Eu acho que o nome da banda é importante no momento em que não a conheces, depois já o associas ela, e é o pacote completo, como Xutos & Pontapés.
Nestes onze anos, quais foram os momentos que mais vos marcaram?
André: Os concertos fixes que fomos tendo, as gravações, os lançamentos dos discos… Pedro: Quando fomos a Londres e andávamos aí com os instrumentos as costas e ainda de bigode…. Cláudia: Menos eu! Eu não tinha bigode, na altura (risos) André: E a primeira vez em que ouvi uma música nossa gravada na rádio!
Quais são as grandes diferenças entre o que fazem agora, com três álbuns e três EPs na bagagem, e o que faziam na altura de Olhos de Mongol? Há menos post-rock, menos viagem? Sentem necessidade de ser mais directos?
André: Fizemos um pouco um retrocesso. Neste último disco fomos atrás desses momentos. Cláudia: Mas eu concordo. Temos menos post-rock, o que não quer dizer que não voltemos àquilo que fazíamos! André: Estes últimos discos, a meu entender, foram feitos para fechar um capítulo daquilo fizemos para trás. Acho que todos nós temos vontade de experimentar coisas diferentes em qualquer disco, queremos experimentar novos caminhos, mas sendo sempre nós mesmos. Pedro: Eu acho que conseguimos criar uma linguagem própria. Quando se ouve qualquer um dos nossos discos há qualquer coisa reconhecível em nós, e isso dá-nos um prazer enorme.
No último disco, em relação aos anteriores, há também letras mais desenvolvidas. O que mudou na vossa forma de fazer as coisas?
André: A música vem sempre primeiro e a letra depois, e é sempre um processo difícil porque a escrita tem que ser trabalhada, porque uma coisa pode ficar bem no papel e depois não bater certo em métrica e outros aspectos com o instrumental. Neste disco, acho que havia mais espaço e as músicas, não sendo muito redondinhas, tinham um registo mais clássico de verso-refrão e isso deu-nos mais espaço para desenvolver. Ouvíamos a música e pensávamos “epá faz falta aqui mais qualquer coisa, não sei se isto sobrevive só com o instrumental”. Foi só acharmos que havia espaço para preencher e que tínhamos que fazer isso. Se no futuro sentirmos que bastam letras como em “Este Mar”, vamos continuar a seguir esse caminho.
Já tinham feito ponte com a música interventiva no passado, com um sample de José Mário Branco na canção “Partir Para Ficar”. O que é que vos leva a ir buscar as grandes vozes do passado para as incluir nas vossas canções e reafirmar a mensagem original? Até que ponto é que essas mensagens são intemporais?
Hélio: Tentamos sempre fazer ponte com coisas que sejam intemporais, por exemplo, o texto do FMI que usamos do José Mário Branco tem muitas coisas que não faria sentido usar hoje em dia. Nós tentamos que o trecho que usamos fosse intemporal, que te conseguisses relacionar com ele agora, da mesma forma que conseguias há vinte ou trinta anos atrás… Tentamos arranjar coisa que nos digam alguma coisa de valor ainda hoje, e isso surge até por sugestões às vezes dos pais! O “Adeus Tristeza” foi feito por sugestão do pai do André.
O que é que vos faz aguentar o barco? Costuma haver divergências na banda? Já são mais de dez anos de discos, concertos, muitas pessoas e muitos sítios…
André: Continuarmos a ser amigos, e termos uma boa relação. Foi isso que nos fez começar, e acho que com o tempo nos tornámos ainda mais próximos. Apesar de tudo sofrer desgaste, como nos casamentos, nós temos sabido aguentar com as coisas boas, e menos boas. A única forma para conseguirmos fazer o que fazemos é mesmo nos darmos bem uns com os outros. Hélio: Nenhum de nós, com a personalidade que tem, se daria bem numa banda que está sempre a discutir
Alguma vez estiveram para seguir outro caminho? Há electrónica no “Marsupial”…
Cláudia: Isso não se pensa. A música que sai quando estamos juntos é esta. Quando estamos com outras pessoas, por exemplo o Hélio que tem outra banda, a música que sai é outra, portanto isso nao é uma coisa que esteja definida à partida, é uma coisa que acontece dependendo das pessoas com quem estás a fazer a musica
Com a dimensão que a banda foi ganhando, foram tocando em locais cada vez maiores. Depois dos concertos esgotados no Lux tiveram vontade de fazer concertos em palcos mais pequenos que, obviamente, também esgotaram. Sentem que à medida que sobem na carreira se vão tornando mais distantes do público?
Pedro: Não, mas isto dá saudades de vez em quando.. André: O problema é que faltam salas. Se tiveres uma banda como nós, que conseguimos, em Lisboa ou no Porto, que 500, 600 pessoas nos vejam, tens poucas salas no país que tenham essa capacidade. Não existem bares ou salas mais pequenas que tenham essa capacidade. A nossa decisão de fazer estes concertos foi mesmo porque estávamos com saudades de tocar em espaços mais pequenos e sentir essa proximidade com o público. A dimensão, no país e no espaço que temos, acaba por ditar esse afastamento. Cláudia: Não tem só a ver com o espaço, mas com o hábito das pessoas. As pessoas não estão habituadas a ir a concertos durante a semana, e ao fim de semana são poucos espaços e a coisa fica limitada. Se as pessoas tivessem mais o hábito, ou a necessidade, de ir a mais concertos durante a semana, havia uma necessidade maior de criar mais espaços.
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