Ah juventude, que bom é viver-te. Tudo parece mais fácil, mais rápido, mais rico. As horas transformam-se num instante, os dias continuam do mesmo tamanho mas parecem mil vezes mais pequenos. Está sol? Ótimo! Está chuva? “Tá-se” bem na mesma. Do alto dos meus 21 anos afirmo que não há nada como isto: viver com o coração na ponta dos dedos e de língua afiada e sabichona.
Mas atenção, não estou aqui para fazer pirraça a quem já me leva vantagem, aniversariamente falando. Estou aqui para vos falar dos JUBA, a mais recente aquisição do plantel de rockstars portugueses.
Isaac, Miguel, Tomás e Joel formam o quarteto que ainda há pouco nos fez abanar o capacete no Vodafone Mexefest, no mesmo Cinema São Jorge onde fizemos esta entrevista. Caracterizados por um rock-psicadélico imponente e estimulante, os quatro rapazes, todos na casa dos “20’s”, dão hoje uma autêntica lição de como fazer música boa. Música cheia. “Cheia de quê?” Perguntam vocês. É fácil: cheia da vida que só se sente quando ser adulto ainda é uma coisa não muito concreta. Cheia de fúria, inconformidade e, qualidade, muita. Cheia… de juventude.
Altamont:Antes de mais, JUBA, de onde vem o nome?
JUBA – Miguel: Na base, JUBA é o nome da capital do Sudão do Sul. Chegamos a esse nome através de um processo um bocado complicado, não sabíamos muito bem o que escolher mas sabíamos que queríamos um nome curto, preferencialmente de quatro letras, porque somos quatro e isso. O Joel andou um dia a ver capitais de países e pronto, descobriu JUBA. Sugeriu-nos, nós gostamos e ficou só mesmo porque nos soava bem. Não há propriamente um conceito em torno disso.
Então e vocês já se conheciam todos antes de se juntarem como banda?
Tomás: Conhecíamo-nos de outras bandas, eu tinha uma com o Miguel e o Joel tinha uma com o Isaac. Já tínhamos tocado juntos e então pronto… basicamente um dia o Joel falou comigo e com o Miguel e perguntou-nos se queríamos criar uma coisa nova com ele. Então combinamos um café, onde discutimos o rumo que queríamos dar à “coisa” e pronto. Nesse mesmo dia fomos para casa do Miguel fazer umas experiências e depois chegamos à conclusão que precisávamos de um baterista: logo a primeira e única hipótese foi o Isaac. Assim surgiram os JUBA.
E a vossa participação na coletânea Novos Talentos Fnac 2013: Foi o empurrão final no lançamento da vossa carreira?
Tomás: Olha que não sei…
Isaac: Bem, acho que foi um dos, mas não diria o único. Nós tivemos um percurso diferente das outras bandas. O nosso primeiro concerto foi no Plano B em Novembro de 2012 e dois dias depois tocámos no evento da Red Bull e esses talvez foram o nosso primeiro grande impulso. Depois o single começou a passar na Vodafone FM
Miguel: Que ajudou bastante…
Tomás: O Novos Talentos, na realidade, foram mais uma oportunidade de mostrar mais um bocadinho de nós. Só tínhamos um single, que nos deu um boost enorme, e era necessário mostrar coisas novas… assim aproveitamos essa hipótese para mostrar coisas novas.
Vocês são ainda muito novos, mas já conseguiram muita coisa enquanto banda. Qual é que acham que é o segredo para singrar hoje em dia? Que conselhos dariam a uma banda que estivesse a dar os primeiros passos no mundo da música?
Miguel: A partir da nossa experiência diria que hoje em dia, infelizmente acho eu, uma banda não têm de se concentrar só em fazer música. Cada vez mais é fulcral o tratamento da imagem, as redes sociais e tudo isso.
Isaac: Só para veres, quando nós começamos a página de Facebook em Setembro, lançamos logo um vídeo, gravado com camaras nossas e isso. Mostramos logo qualquer coisa…
Miguel: Hoje em dia, como é muito mais fácil uma banda ser chamada uma banda, tens de ser mais que músico quase para te destacares dos outros…. Mas claro têm de ensaiar muito e como deve de ser (risos) pode ser chato mas é essencial!
Mynah, o vosso primeiro CD de originais, saiu há pouco tempo e tem sido analisado positivamente pela grande maioria das pessoas. Vocês, a título pessoal, como o analisam ou caracterizam?
Miguel: A nível pessoal acho que é o resumo daquilo que foram os JUBA nesse ano. O álbum começa com a primeira música que fizemos juntos e acaba com a última que fizemos antes de ir gravar o álbum. Dá para ver mais ou menos, à medida que se vai ouvindo o álbum, que há uma certa progressão, no estilo, nas melodias e acho que isso é o principal que destacava. Para além das dez músicas do Mynah não tínhamos mais nada para gravar, normalmente as bandas fazem umas vinte músicas e depois escolhem, nós não. (risos)
E a reação do público em si, como acham que foi?
Isaac: Não sei bem… acho que é muito difícil de avaliar isso por dentro. Entrámos em vários tops de 2013, mas saber bem o que cada pessoa acha ou se chegamos a muita gente é difícil…
Eu ia perguntar-vos exatamente sobre as presenças em todos esses tops de melhores bandas e discos destes ano que passou. Vocês apareceram em vários deles, acredito que seja um excelente motivo de orgulho, mas será mais de responsabilidade?
Miguel e Tomás: É um misto, sem dúvida!
Miguel: Dá sempre aquela pressão sobre o segundo álbum, o famoso “difícil segundo álbum”, mas é uma boa responsabilidade.
Tomás: Mas acho que nós sentimos sempre isso nos concertos. Eu pessoalmente, quando sinto que dei um bom concerto, sinto que o próximo tem de ser melhor, porque as pessoas ficam sempre naquela expectativa não é? Agora então que estamos a tentar descobrir novas sonoridades ficamos ainda mais na dúvida de como será a reação do público.
E o segundo álbum já está em preparação?
Miguel: Sim, já há umas maquetes mas é tudo ainda muito primordial. Já trouxemos várias vezes as maquetes para a sala de ensaio e sentimos que ainda não arranjamos uma maneira boa de transportar aquilo de casa para o estúdio.
Tomás: Mas basicamente posso dizer que o segundo álbum que agora ainda é só uma ideia. Não temos nada grande coisa para vos adiantar. Gostamos de ter objetivos criados e o deste ano é fazer um álbum novo. Mas por agora ainda estamos numa fase de explorar muita coisa.
E agora a clássica pergunta sobre as vossas influências musicais… Quais são as que destacariam?
Miguel: Isso é uma pergunta que se nos fizesses há uns anos atrás teria uma resposta, hoje terá outra, amanhã outra… Na altura em que começamos a tocar juntos ouvíamos muito DIIV ou Mac Demarco, por exemplo, hoje em dia cada um ouve a sua coisa, cada um está mais na sua ilha musical.
Isaac: O que é bom!
Miguel: Sim claro! Eu tenho ouvido mais coisas dos anos 60 e 70, ele estará a ouvir outra coisa, ele outra também…
Tomás: Eu não digo (risos)
Miguel: Mas não acho que temos ou já tivemos influências assim mais diretas na nossa música.
Tomás: É claro que toda a gente tem influências, uns mais, outros menos, mas não é uma coisa que nos preocupe muito.
Numa crítica que fizeram a vosso álbum chamavam-vos de “vanguarda da música portuguesa de hoje em dia”. Concordam com isso?
Tomás: Não li essa! (risos) Mas epá não sei, é bom ouvir isso mas depois ficamos com um sentido de responsabilidade muito mais elevado.
Isaac: Mas é um orgulho, sempre.
Tomás: Claro que é bom.
Isaac: Não é fácil responder a essa responsabilidade, não é que nós não queiramos, mas não é nada fácil.
Tomás: De um modo geral sabe bem ver as pessoas a dizer isso, nós tentamos fazer o nosso som sempre o mais inovador possível e eu espero que essas opiniões sejam precisamente por causa disso porque é uma sonoridade nova ou uma coisa que acham original o interessante.
Agora pegando nessa ideia da vanguarda da música portuguesa e fazendo ponte para o rejuvenescimento que ela têm sentido nos últimos tempos, acham justo afirmar que, pelo facto de estarem a aparecer tantas bandas novas e em áreas musicais diferentes, a música está a ganhar um papel diferente na vida das pessoas?
Miguel: Em Portugal acho que sim. Eu ainda sou novo, mas por exemplo, fala-se muito da música portuguesa da década de 80, com o Rock Rendez-vous e não sei que, e eu não sei se o hoje em dia pode ser comparável a isso, mas pela minha experiência e fazendo a comparação com os meus anos de adolescente, estamos sem dúvida perante uma nova vaga da musica portuguesa. Também o aparecimento da internet foi um fator determinante: há trocas de influências muito maiores, mais rápidas, consegues ouvir hoje uma música que foi lançada ontem na Tailândia ou assim e dessa forma acho normal ,não só em Portugal como em todo o Mundo, existirem cada vez mais bandas, com som cada vez mais fresco.
As pessoas prestam mais atenção à música então?
Tomás: Sim, acho que isso está muito ligado com a mudança de mentalidades das pessoas também. Hoje em dia toda a gente, quase, está muito mais aberta a coisas novas.
Miguel: Lá está, também porque estão expostas a uma variedade de coisas muito maior…
Tomás: Exato!
Isaac: Mas a música, como quase tudo hoje em dia, é uma moda… toda a gente quer fazer, toda a gente quer ouvir isto ou aquilo, o que pode ser bom, mas também pode ser mau.
Tomás: Mas é a tal coisa, às vezes fazem-nos aquela questão sobre o que é o nosso som, ou como o caracterizamos, e eu acho que hoje em dia, a música já foi tão desmistificada que deixam de haver tantos padrões ou géneros.
Mudando agora de assunto: Festivais de Verão. Já se vão conhecendo aos poucos novas confirmações, vocês já têm alguma expectativa em relação a isso?
Tomás: Já nos estão a tentar sacar aquelas informações (risos)
Miguel: Aqueles exclusivos (risos)
Tomás: Por acaso não, com muita pena minha, não há nada. Gostava de vos poder adiantar alguma coisa…
Miguel: Não há nada… que nós possamos dizer!
Tomás: Nós estamos á espera! (risos)
Miguel: Sim, se estiverem a ler isto, já sabem, estamos disponíveis! (risos)
Ao longo deste vosso caminho como banda, qual acham que foi o vosso ponto mais alto?
Miguel: Eu acho que estamos todos de acordo que foi exatamente aqui, em baixo, na sala Montepio, no concerto de apresentação do Mynah no Mexefest. Foi muito bom mesmo. Tivemos roadies pela primeira vez e tudo! (risos)
Tomás: Por acaso foi mesmo, um ótimo concerto. Acho que o pessoal gostou, a sala estava composta…
E como é que é subir a um palco e estar perante uma sala cheia para vos ver e ouvir a tocar? Qual é a sensação?
Isaac: Para mim é motivante! Só me apetece subir e deixar tudo lá em cima.
Miguel: É muito bom mesmo. Muitas vezes as pessoas falam no nervosismo e isso, mas pelo menos na minha experiência, quantas mais pessoas estiverem, menos nervoso estou, não sei bem porque.
Tomás: Sim, também acho. Lembro-me que na altura (Mexefest) nós até comentamos que foi a primeira vez que fomos aplaudidos logo à entrada para o palco (risos) Normalmente entramos no palco e as pessoas, gradualmente, vão aderindo á coisa, mas ali não, foi diferente, sentimos que estavam todos de propósito só para nos verem e essa sensação é ótima.
Agora vou pegar num pequeno jogo de associação de palavras, nada parvo nem nada, e afirmar que temos: JUBA, JUBA-leão, leão-Rei Leão. Consideram-se ainda uns pequenos “Simbas” ou já estão mais perto de Reis da savana?
Miguel: Ainda estamos naquela fase em que ele salta entre as girafas, aprende com o Timon e o Pumba (risos)
Tomás: Sim, ainda não temos uma juba muito farta…
Miguel: Ainda não estamos prontos para enfrentar o Scar, estamos a treinar para isso ainda! (risos)
E para concluir: Desejos para 2014?
Isaac: Tocar, sem dúvida. Tocar muito. Para além disso talvez tocar lá fora também.
Tomás e Miguel: Sim, exatamente, isso era ótimo
Isaac: Lançar o álbum já foi um dos desejos que tinha desde sei lá quando e foi realizado em 2013. Agora o próximo é tocar lá fora!
Tomás: Isso e Paz e Amor! (risos)
(Fotos: Inês Marques)