2012 – A Rainha de Inglaterra assinala o 60º ano de reinado, Portugal é dramaticamente retirado da final do campeonato da europa de futebol e…nasce o Talkfest.
Depois de muitos anos a cimentar uma quase lendária reputação no que toca a Festivais de Música, Portugal vê nascer aquele que seria o primeiro ciclo de conferências unicamente dedicado a festivais no nosso país. O Talkfest, assim batizado por Ricardo Bramão (coordenador do projecto), nascia e, em pouco tempo, chamaria à atenção de todos aqueles que gostam de pensar música com seriedade. A primeira edição foi um sucesso e, como tal, uma segunda seria mais que obrigatória: em 2013 tivemos mais uma série de palestras, masterclasses e concertos, que contaram com nomes grandes da música nacional como PAUS, Capitão Fausto ou Os Pontos Negros.
De ano para ano, o sucesso desta ideia cimentou-se no panorama da música nacional e, como tal, a afición festivaleira portuguesa já não perdoaria se não houvesse um Talkfest 14.
Hoje, a menos de dois meses de distância da terceira edição do “Fórum Sobre o Futuro dos Festivais de Música em Portugal”, fizemos umas perguntas à organização do evento, Ricardo Bramão, Tiago Fortuna, Andreia Peixoto e Marta Azevedo, para tentarmos perceber quais são os segredos que os festivais portugueses revelam apenas para alguns.
Dos destaques da edição deste ano até ao atual panorama da música portuguesa, não houve tema que não fosse abordado. Resta-nos fazer o repto para que se ainda não puderam assistir a nada que tivesse o selo Talkfest, não percam a edição deste ano. Obrigado Talkfest!
Altamont: Como surgiu o conceito do Talkfest?
Talkfest: O conceito Talkfest nasceu da ideia dos fundadores, habituais frequentadores de festivais de música, quererem colocar novas ideias em discussão e construção de novas soluções para uma indústria que até à primeira edição, muitos falavam mas que não se encontravam para a discutir num único espaço. Era algo que não acontecia com outras áreas, como marketing ou recursos humanos.
Da ideia à realidade foi um longo percurso?
Sim, foram 9 meses de trabalho intenso, a tentar que oradores, parceiros, instituições e imprensa percebessem o conceito do evento e o valorizassem para ser mais fácil de o transmitir ao público.
O Talkfest tem como base “o festival de verão”. Como temos visto nos últimos anos, os portugueses, particularmente, têm tido bastante sucesso. Como acham que isso se explica num país onde vários outros ramos da cultura passam por grandes dificuldades?
Os festivais de música e não apenas os de verão, são um evento social, onde se reúnem e se encontram amigos, onde se ouve música claro, mas acima de tudo onde se consegue esquecer por algumas horas o stress e as preocupações do dia a dia, esse talvez sejam os seus pontos distintos que o elevam acima de outras culturas. No teatro, no cinema, numa exposição não nos é permitido falar e nos festivais sim, além de que interagimos com os nosso ídolos.
Portugal destaca-se cada vez mais como a “meca” dos grandes concertos e festivais. Como acham que isso se explica?
Clima bom e preços mais acessíveis tendo por comparação o resto da europa e o fenómeno do apoio de grandes marcas que sustentam os grandes festivais.
Acham que o público português, o seu espírito, é determinante no sucesso dos festivais?
Também, mas penso que a presença de público estrangeiro veio dar um outro ambiente aos grandes festivais e com o qual deveríamos seguir alguns comportamentos.
Sentem que o Talkfest, duas edições volvidas e uma terceira a caminho, fez/faz a diferença?
Sim, claramente. Todo este processo fez alterar a indústria dos festivais e permitiu que esta se conhecesse e permitisse criar networking deixando nos promotores, as marcas, os artistas a responsabilidade de lutarem pela aquisições de processos otimizadores dos festivais, mesmo que uns tenham intervenção nestes de forma mais ou menos direta.
Musicalmente, a cena cultural portuguesa têm crescido bastante. Multiplicam-se as novas bandas, novos concertos, novos projetos. Acham que os festivais têm responsabilidade nesse processo?
Também, e esta será uma das temáticas a ser falada no Talkfest’14, “a sustentabilidade do artista”. Atualmente estão a ser dadas muitas oportunidades a principiantes somando-se as oportunidades aos consagrados, existindo um grande gap, que penso que os festivais deveriam tentar atenuar. Uma banda portuguesa com um 2º álbum tem muita dificuldade ainda a fazer-se ouvir neste meio.
A par desse crescimento, uma realidade paralela continua a acentuar-se: temos músicos nacionais já com grande visibilidade e reconhecimento (nacional e internacional), que continuam sem conseguir fazer da música o seu sustento exclusivo. Qual é a vossa opinião neste aspeto?
Não sei se percebi a questão, mas penso que o sonho de qualquer artista é que a sua música seja um sustento “a tempo inteiro” e prolongado no tempo, tal facto é muito difícil pois o nosso mercado é muito reduzido e bandas portuguesas (que atuam em Portugal) não conseguem atuar no mercado Brasileiro e Palop com facilidade, o que faz com que vejamos um mesmo artista em diferentes projetos e diferentes funções.
Acham que os portugueses têm dificuldade em “aparecer” mais no estrangeiro? Se sim, porquê?
Os que cantam em português a questão da língua e os que cantam em inglês, a questão de ter de ser uma banda/projeto com algo diferenciador para singrar como é o caso na atualidade dos PAUS (que já passou no Talfkest) e Buraka Som Sistema. Se for pop pela pop, ou rock pelo rock, o mercado americano e do Reino Unido ditam regras há muitos anos, impedindo a penetração de exteriores.
O que mudariam no panorama dos festivais em Portugal?
Responderemos no final do Talkfest’14! (risos) Achamos que é uma edição que com as novidades, o testemunho de festivais internacionais, os resultados de estudos nesta área, vai trazer respostas à pergunta que poderão ser dadas ao longo dos 3 dias do evento
O que destacam nesta nova edição?
A inclusão de novas áreas (Documentários de festivais de música – alguns em estreias absolutas em Portugal; PRO – apresentações de projetos associados aos festivais de música, todos portugueses mas muitos com o sonho de se internacionalizarem; Seminários – com formadores reconhecidos da música e do Marketing; os testemunhos de oradores que são promotores dos melhores festivais europeus como Glastonbury e também os concertos na Aula Magna, numa noite que levará a melhor música portuguesa. Nesta edição irá priviligiar o networking e a relação de todos e entre todos, desde o público em geral ao diretor geral de uma marca.
Em que aspeto está diferente das anteriores?
Está maior o evento e mais internacional, com programação paralela e mais horas de atividade para que este evento continue a ser único no nosso país e feito com cada vez mais qualidade.
Haverá mais alguma surpresa como a do Matt Berninger?
Sim, para breve teremos mais uma Talkfest Special Edition. O Talkfest é hoje uma marca e não se pode confinar à edição-mãe, pois existem as Talkfest Special Edition, o primeiro curso de Gestão aplicada aos festivais de música no ISEG (Music Festivals Management, com primeira edição quase esgotada e que dará ao melhor trabalho a possibilidade de estagiar no Vodafone Paredes Coura), a oferta de bilhetes para festivais e mais coisas irão acontecer, temos um papel definido do que queremos e o que procuramos para ajudar a profissionalizar esta área.
Como se deu essa participação com o vocalista dos The National?
Uma boa conjugação de factores…
Onde veem o Talkfest daqui a 50 anos?
Não sei se o conceito, a marca existirá, porque poderá não fazer sentido nessa altura. Temos de ter noção que vivemos num planeta com mutações cada vez mais céleres e se este não existe, é porque deixou de fazer sentido, existindo por certo algo que poderá estar mais perto de algo que deve ser discutido.