Omara Moctar nasceu há 33 anos perto de Agadez, no Níger. Fez-se Bombino uns anos mais tarde, quando descobriu a música (e a música o descobriu a ele).
Nasceu no Níger e pertence aos Ifoghas, uma tribo nómada Tuaregue; aos dez anos teve de exilar para a Argélia na sequência das Revoltas Tuaregues – contra o colonialismo – e passou grande parte da adolescência em países vizinhos. Reza a lenda que a certa altura tropeçou numa guitarra abandonada, pegou-lhe, começou a tocar, foi aprendendo sozinho e a ver vídeos de Jimi Hendrix e outros magos – e assim se fez Bombino.
Passou quase toda a vida rodeado de conflitos armados (do seu povo,contra o regime colonialista do Níger) mas em vez de pegar em espingardas pega na guitarra, e é por aí que dispara. E é capaz de chegar bem mais longe.
É uma espécie de activista musical, bastante respeitado e admirado pelos seu conterrâneos – mas só recentemente começou a chegar até nós.
Com uma encantadora fusão de música do Deserto, Blues e Rock, Bombino é uma espécie de sobrinho dos Tinariwen. Editou em 2011 o primeiro álbum em formato convencional – e em entrou directamente para o primeiro lugar da tabela de World Music do iTunes.
Um dos que ouviu este trabalho foi Dan Auerbach, guitarrista e vocalista dos Black Keys, produtor nas horas vagas (não assim tão vagas, que ganhou este ano o Grammy de melhor produtor) e que rapidamente convidou Bombino para gravar no seu estúdio, em Nashville.
E assim chegamos a Nomad, um disco moderno ocidental de música tradicional secular do sahara. Bombino pega na mais pura tradição de música do deserto, junta-lhe o dedilhar da guitarra eléctrica aprendido com Hendrix e Santana, e aplica ainda um toque de blues. Faz isso tudo, dentro de cada uma das 11 músicas deste álbum, mas sem fazer delas uma confusão total. As canções são por demais orgânicas, preenchidas de sons que nos hipnotizam em poucos instantes. Pelo meio, guitarradas virtuosas de Bombino.
O seu cantar, em tuaregue, também encanta. E e em menos de nada damos por nós a andar para a frente e para trás, entre as terras ele onde nasceu, uma qualquer capital europeia e as margens do Mississippi.
Já aqui falámos de Amadou & Mariam. Bombino é mais um caso salutar de boa gente e boa música que sai de África e que começa a chegar com relativa facilidade à Europa, e a um público mais alargado. A & M tocaram no Coliseu de Lisboa. Bombino vem ao B.Leza (19 de Maio) e regressa depois em Agosto, para o Festival de Paredes de Coura.
É bom não ter de atravessar o Sahara para poder ouvir esta música!