Três anos de depois da explosão mundial com Singles, os Future Islands fazem mais um grande disco, com a sua synth-pop de coração sempre na boca.
Os Future Islands, trio que desde Baltimore anda a fazer música há quase 15 anos, deu um pontapé na porta do mundo em 2014, com a edição do portentoso Singles. Esse disco vinha carregado de boas canções, mas o que fez a diferença foi a presença dos Future Islands no programa de David Letterman. A 3 de Março desse ano, a interpretação de “Seasons (Waiting on you)” tornou impossível que qualquer um dos milhões a ver o programa não se interrogasse: mas quem são estes gajos? Sobretudo quem é Samuel T. Herring, o vocalista maníaco que, do alto do seu vozeirão, dá tudo o que tem e não tem em palco?
A performance televisiva de Herring marcou definitivamente a subida de divisão dos Future Islands. As digressões tornaram-se intermináveis, as salas ficaram maiores, e Singles arrancou com mérito um lugar entre os melhores discos de 2014.
E agora? Depois de tantos anos de trabalho, de esforço, de dedicação, como se sucede ao disco que finalmente mudou tudo?
O resultado deste pós-estrelato é The Far Field, e na verdade nada mudou. A fórmula testada e bem sucedida dos Future Islands continua presente em toda a sua evidência: um baixo extraordinariamente pulsante, uma batida electrónica eficaz, sintetizadores transplantados dos anos 80. E, à frente e por cima disso tudo, a voz magnética, inescapável e incontornável de Herring.
O pano de fundo para este novo disco é exactamente um homem, mais do que uma banda, à procura do seu novo lugar no mundo, depois de aparentemente ter conseguido tudo aquilo que alguma vez desejara. Herring, o letrista pessoalíssimo, explicou à Mojo o sentimento, que deu origem a “Through the roses”. Guiava pelas montanhas Blue Rigde quando se interrogou: “bateu-me nesse momento, esta enorme sensação de solidão. Tinha atingido todos os meus objectivos mas tudo o que encontrei foi a mesma solidão”.
The Far Field é a crónica dessa solidão, desse desencanto, dessa inquietação que não vai embora porque vive sempre dentro de certas pessoas, de certa forma dentro de todos nós, mais ou menos à superfície.
Herring não esconde nada. As suas letras contam tudo, o desgosto amoroso (dois, na verdade, segundo conta, um mais recente e outro de uma vida inteira), a frustração, a desadequação, a solidão e a busca de algo que a minore.
Comparando com Singles, não há diferença de intensidade. Nem a voz impositiva de Herring o permitiria. O que há é talvez menos exuberância e mais amargura.
O que é extraordinário nos Future Islands é que conseguem fazer o aparentemente impossível. A sua música é synth-pop, assente em ritmo electrónico e sintetizador, tudo coisas que associamos normalmente a algo plástico, superficial. E a verdade é que, ouvindo The Far Field, não há aqui nada falso, nada postiço, nada de pose. Sentimos que cada palavra cantada por Herring é real, sentida e vivida, e isso faz toda a diferença. Mais, reclama do ouvinte um enorme respeito que nos conquista.
The Far Field são 12 contos, servidos como sempre por melodias contagiosas e energizantes. Esse é o outro segredo, no fundo muito pouco secreto: a capacidade de construir grandes canções com grandes refrões, que nos façam querer saltar, dançar ou esmurrar alguém. Essa é a maravilha da pop bem feita.
O nível do disco é bastante homogéneo (o único defeito, aliás, é a semelhança entre os temas e o nível de intensidade sem altos em baixos, praticamente sempre no máximo). Destacamos “Ran”, o fantástico primeiro single e apropriado cartão de visita para quem não conhecer o som destes rapazes; “Cave”, com o seu baixo pulsante e ambiente anos 80; e “North Star”, gingante e emocionante.
Um belo disco de uma grande banda, cuja voz merece ser ouvida.