Albert Hammond Jr. é um tipo ocupado. Não lhe chega ser guitarrista de uma das maiores e melhores bandas do rock deste milénio – os Strokes – como vai já no seu terceiro disco a solo.
É claro que Strokes são sempre os Strokes e, como habitualmente, toda a gente olha com mais atenção para o trabalho da banda do que para as incursões a solo dos seus membros. Quanto ao futuro do grupo, nunca ninguém sabe excepto Julian Casablancas e companhia. Recentemente, foram conhecidas declarações contraditórias quanto a digressões ou novas gravações, com o vocalista a dizer uma coisa e Hammond Jr. o seu contrário. Nada de novo numa banda cuja coexistência interna nunca foi fácil e se foi degradando nos últimos anos, apesar de os discos continuarem a ser bons (apesar de cada vez menos consensuais, dado o namoro com os anos 80).
Dos irrequietos dedos de Albert Hammond Jr. brota música e ideias, ininterruptamente. Este novo disco, Momentary Masters, é prova disso. Se não há Strokes, enfim, não é razão para não se fazer música, gravá-la e levá-la em digressão pelo mundo. É claro que está lá, sempre, o ADN reconhecível dos Strokes (ouça-se logo o primeiro tema, “Born Slippy” e veja-se que malha daria num disco da banda). Mas há outras cores na paleta do guitarrista, claro. “Power Hungry”, o segundo tema, dá logo destaque a um baixo bojudo e saltitante, a espaços lembrando a contundência melodiosa de Peter Hook, numa música que se desenvolve calma e agradável até que a entrada do sintetizador (calma, este com bom gosto) quase asiático parece abrir toda uma nova janela na parede que confinava a composição.
“Caught My Shadow” é…Arctic Monkeys! Um roubo descarado, quase, a lembrar os tempos acelerados da banda de Alex Turner na altura de Favourite Worst Nightmare. Seja como for, uma boa e agressiva malha rock. Segue-se “Coming To Getcha”, num registo que começa bem, com a voz de Hammond Jr. à frente a falar-nos sem máscaras mas que depois acaba por descambar um bocadinho devido ao refrão bem orelhudo mas a roçar o FM comercial. “Losing Touch” volta a encarrilar as coisas, com um tom tipicamente Strokes e o tal baixo assassino de boas tropelias. “Don’t Think Twice” é uma música simples, a lembrar outros tempos e outras rimas (sim, ao nome da música ouve-se “it’s allright”), com um registo acústico que é agradável mas pouco mais. “Razors Edge” é Strokes tirado da mesma simples e eficaz gaveta de “Last Nite” ou “New York City Cops”. “Touché” mantém o ritmo acelerado e adolescente da banda, mostrando o que o guitarrista faz em modo automático (e ainda assim soa bem). “Drunched In Crumbs” segue a mesma linha, embora com o vocal bem limpo e à frente da mistura, noutro tema que explora as últimas incursões dos Strokes, com raiz no rock mas brincando a ritmos electrónicos tipo Tron como estrutura-base. Momentary Masters (título inspirado na obra do genial cientista Carl Sagan), fecha os seus trinta e poucos minutos de duração com “Side Boob”, que aposta num ritmo longe do 4×4 habitual, até desembocar no habitual gancho de refrão a que já nos habituámos, terminando com um crescendo a lembrar o melhor indie-rock de estádio.
A história de guitarristas geniais que se cansaram do vocalista prima-dona e editaram discos a solo é longa. Pensemos em Bernard Butler, em Keith Richards, em Graham Coxon, entre muitos outros. Ao contrário do que sucede com estes, a voz de Albert Hammond Jr. não parece estar ali só para cumprir calendário. Falta-lhe a entrega cool, relaxada e narcotizada de Julian Casablancas, mas o que se perde em estilo (e algum carácter, admita-se) compensa-se em franqueza e em foco, com resultados não necessariamente marcantes mas de qualidade bastante apreciável.
Momentary Masters é, assim, um belo disco de boas canções de indie-rock feito em 2015, mostrando que o guitarrista mantém as suas coordenadas bem certas e alvitrando uma maturidade de composição que garante esperança para os anos vindouros. Seja nos Strokes – quando eles decidirem o que querem fazer, do seu som e da própria banda – ou noutros projectos.
