No longínquo ano de 2011, “Video Games” e “Born To Die” fizeram o alter ego de Elizabeth Woolridge Grant ouvir-se em todo o lado. As profecias falavam numa nova diva da pop, que destronaria todas as que na altura partilhavam o trono. Faziam prometer um novo mundo, uma nova pop – inundada de nostalgia de uma América chique dos 60s – que mudaria completamente o panorama musical do género. Quatro anos passados e o mistério continua: não sabemos muito bem quem é, o que é, nem o que pretende Lana Del Rey. Quanto às profecias, não se realizaram todas, mas cada vez mais Del Rey mostra que veio para ficar.
Recuperando de algumas decepções da altura do lançamento de Born To Die, o disco de estreia, Lana Del Rey surpreendeu com Ultraviolence, já mais maturo que o precedente. Nele, com Dan Auerbach (Black Keys) à cabeça na produção, as suas canções tomaram ainda mais a forma de lençóis esvoaçando ao vento. Da memória de um casal outrora feliz, correndo entre eles. Rindo, amando, ao som de guitarras melosas, choronas e narcóticas.
É justamente esse registo que Lana retoma em Honeymoon. As primeiras cordas que ouvimos arrepiam e preparam os versos que lhes seguem e que não poderiam dirigir-se melhor aos ouvintes. Ouvintes que, ao fim de uns anos, ainda voltam, curiosos – mas com medo de saírem desapontados: “We both know that it’s not fashionable to love me / But you don’t go cause truly there is nobody for you but me”. Honeymoon é também a consagração da relação de Lana com o ouvinte. Uma lua-de-mel que roda numa mala-gira-discos que levamos para um piquenique num prado, onde dançamos com a nossa cara-metade – tudo em câmara lenta e filmado em Super 8.
As relações e sonhos falhados continuam a ser lamentados disco fora, sendo que em Honeymoon as idiossincrasias de Del Rey se tornam ainda mais suas. Ao terceiro disco, a cantora toma as rédeas da produção, cortando laços com os tempos em que se falava dela como uma artista produzida pelo pai ou algum magnata da indústria musical. Segura de si, Elizabeth Grant chega ao terceiro disco confiante e com um excelente resultado. Honeymoon é a bofetada com luva de pelica dada a todos os que a achavam musicalmente incapaz. É este, provavelmente, o trabalho mais bem conseguido da artista até à data e também o seu disco mais pessoal. A serenidade toma o lugar das canções construídas para serem singles, como um canto de sereia arrastado eternidade fora. Da electrónica abafada de “High By The Beach” e “Art Deco” às cordas assombradoras de “Honeymoon” e “Salvatore”, todo o disco é embalado por um fluxo único e calmo de vento sonoro e saudoso.
Ouvem-se as ondas do mar chegar a terra, voam sentimentos e vestidos em varandas de palacetes. Chove-nos nos ombros, o casaco aberto em cima da cabeça é o nosso guarda-chuva. Regressamos ao universo de Lana Del Rey, à sua colecção de clichés bem absorvidos, e lá queremos ficar pra sempre, presos, numa tristeza glamorosa e exacerbada. Talvez este auto-flagelo não faça sentido. E talvez só T.S. Eliot o possa explicar.