On Fire é um marco na cena alternativa dos anos 80, e que serviu para consolidar os Galaxie 500 como uma das bandas que definiu o subgênero.
Passei anos da minha vida sem os Galaxie 500, anos a mais, posso hoje afirmar. Felizmente, ainda sou um jovem com muito tempo pela frente, para os poder disfrutar convenientemente. E aqui estamos para nos debruçarmos sobre esta delícia de disco.
Constituída por Dean Wareham (voz e guitarra), Naomi Yang (baixo) e Damon Krukowski (bateria), três estudantes de Harvard, os Galaxie 500 juntaram-se em 1987, mas não duraram muito tempo – em apenas quatro anos lançaram três discos e separaram-se. Facilmente podiam ter ficado perdidos na espuma dos dias, já que a editora produziu sempre poucas cópias dos seus discos, mas tornaram-se uma banda de culto, daquelas citadas múltiplas vezes por outras bandas como influências e assim puderam continuar a ser ouvidas ainda hoje. Ao contrário do rock alternativo que se fazia na altura, mais barulhento e distorcido de seus contemporâneos, como Sonic Youth e Pixies, os Galaxie 500 optaram por uma abordagem mais minimalista e introspectiva para chegar ao coração das pessoas.
A sonoridade de On Fire, o seu segundo disco, é minimalista, mas com um impacto emocional profundo. A guitarra de Wareham, muitas vezes ecoante e distorcida, cria a sensação de monotonia melódica que, em vez de alienar, envolve o ouvinte em uma meditação quase hipnótica. Essa sensação de espaço é acentuada pela produção, que privilegia a repetição e a simplicidade, evitando o virtuosismo instrumental em favor de uma abordagem mais atmosférica. Entrando nessa atmosfera, nesse nevoeiro, somos inevitavelmente envolvidos e subjugados.
As músicas mais marcantes, como “Blue Thunder” e, sobretudo o clássico absoluto, “Strange”, capturam a essência dos Galaxie 500: letras melancólicas, uma dinâmica lenta e um som que parece flutuar, sempre à beira da introspecção. Wareham canta com uma certa fragilidade emocional, quase sussurrando, o que intensifica a sensação de isolamento. As contribuições de Yang e Krukowski, com linhas de baixo suaves e batidas simples, servem como uma base sólida para a sonoridade transcendental que criaram.
On Fire é atemporal, com influências que vão dos Velvet Underground ao dream pop que se faz hoje, de uns Beach House aos Low, e consegue transmitir uma emoção crua, quase primitiva. Desafiou as convenções da altura e permanece relevante pela sua autenticidade emocional e sonoridade única no universo indie. É fecharem os olhos e deixarem-se levar.