Uma pérola de lounge funk vindo das montanhas suíças
O duo Klaus Johann Grobe é composto pelos suíços Daniel Bachmann (voz e bateria) e Sevi Landolt (na voz, no baixo, nos sintetizadores e na ocasional guitarra). Já os acompanhamos por aqui desde o fantástico Spagat der liebe, de 2016, quando ficámos encantados com a sua sonoridade deliciosamente retro-futurista, o som de um futuro imaginado há muitos anos atrás, com instrumentos dessa altura.
A sua força vive de uma certa aura nostálgica, cortesia de todo um arsenal de sintetizadores vintage, com aquele som caloroso que é praticamente impossível de imitar de outra forma, pelo menos de forma convincente.
Esse disco de 2016 era já o seu segundo álbum e continuámos enamorados em Du bist so symmetrisch, de 2018. Nesses dois registos, o que se destava era o ritmo funky, namorando aqui e ali com as pistas de dança, tudo salpicado de forma exímia com traços kraut e disco. A banda chegou a andar em digressões com grandes nomes da música, mas a pandemia acabou por colocar tudo em banho-maria.
Foi em 2022 que Daniel e Sevi se voltaram a juntar depois de algum tempo de inactividade. Desse retiro num vale remoto da Suíça resultou óbvio que a magia ainda ali estava e que havia canções a pedir para serem escritas. O resultado é este novo Io tu il loro, que pega no que os rapazes já fizeram mas que traz mudanças claras.
A primeira, e mais evidente, é a língua. Se, até aqui, cantavam sempre em alemão (o que lhes dava um charme muito particular), neste novo álbum o inglês é a língua dominante, embora haja ainda espaço para o italiano, na balada preguiçosa e deliciosa “Io sempre di tu”, e para o alemão, no encerramento com “You gave it all”.
A segunda diferença está no ritmo e, quem sabe, na própria idade dos músicos. Se os primeiros discos eram mexidos e dançáveis, Io tu il loro é um álbum bastante mais lento, contemplativo, mais maduro e mais cansado. A energia juvenil deu lugar a uma maior profundidade, com mais espaço para as canções se irem desenhando de forma mais lenta.
Desta mudança resulta um disco talvez menos imediato mas de forma alguma menos interessante e até viciante, se lhe dermos oportunidade.
Porque, na verdade, continua aqui tudo aquilo que sempre nos interessou nos Klaus Johann Grobe: toda uma cascata de melotrons e moogs – que tanto podem dar uma estranheza space-age como o calor de um bar lounge forrado a madeira, um baixo insinuante e in your face, um ritmo kraut mas mais humano que maquinal, canções com princípio, meio e fim que tanto nos apelam pelo sentido melódico como pelos pormenores mais jazzísticos lá pelo meio.
Em suma, mais um capítulo numa longa viagem, numa nave com lugar para soul, funk, lounge e uma atmosfera onírica que nos transporta. Os rapazes estão mais maduros. Mas continuam excelentes.