Os Walter Walter e Bonança foram até ao Titanic celebrar a liberdade e lembrar-nos que todas as semanas, por este país fora, há talento a jorrar de amplificadores. Está nas nossas mãos ir ouvi-lo!
“ (…) Tudo
Nas minhas mãos
Tudo
Nesta canção
Tudo
Por mim
Tudo pra ser feliz (…)”
Resultado da colaboração dos Walter Walter com Chinaskee, “Minhas Mãos” é uma daquelas canções que (me) dá vontade de ouvir em repeat. É o equivalente sónico do caramelo salgado no seu contraste cativante entre a simplicidade e a rugosidade, entre o sujo e o orelhudo, entre a festa e a revolta interior. E é, sobretudo, uma daquelas malhas que transpira energia.
Desconheço quais terão sido as reais motivações para que ambas as bandas tenham concluído com as suas atuações com a “Minhas Mãos”, mas vou tomar a liberdade de interpretar a coisa à minha maneira.
Desconfio que a razão mais plausível terá sido o seu potencial para colocar o público a mexer … uns abanam a cabeça, outros dançam e muitos envolvem-se num mosh festivo. Aquilo que senti com mais força, foi precisamente esse espírito de celebração. A Celebração de sentirem que têm nas suas mãos, a possibilidade de continuarem a fazer aquilo que lhes dá mais vontade e gozo, apesar das dificuldades e de tudo o que se tem de aturar. Falo de fazer música no caso dos Walter Walter e de Bonança (e sua banda), falo de promover a cultura e a comunidade no caso da Hey, Pachuco!
A festa começou com a atuação de Bonança e do trio de músicos que o acompanham. Para além da transparente boa disposição, a banda ostenta a garra de quem acabou de sair da garagem bem suportada por uma confiança que estamos habituados a ver em artistas mais rodados. Antes do hino da noite, a banda passou pelos seus temas mais populares como “Oceanário” ou “Há demasiadas Marias” e por outros que ainda estarão por editar!
Ao vivo, o som de Bonança parece ser um pouco mais forte do que nas canções que pude ouvir através do spotify. Essa robustez manifesta-se sobretudo quando a banda foge de tonalidades mais lentas e suaves e aumenta o volume e a velocidade para se aproximar do Rock Alternativo feito nos noventas. É particularmente nestes momentos, em que sobressai o virtuosismo dos instrumentistas e o vozeirão de Bonança, que me trouxe à memória o saudoso Jeff Buckley. Apesar destas referências, que poderão ser defeito de quem vos escreve, não há rasto de revivalismo nas composições da banda e, muito menos, nas letras que tendem a piscar o olho ao sentido de humor tão presente na atual cena indie nacional.
Com o fresquíssimo 18/23 (EP editado em janeiro) enfiado nos seus tote bags, os Walter Walter continuam a festa. Mantêm o espírito mas mudam o som! Permitam-me então, regressar ao caramelo salgado, porque é neste jogo de contrastes que penso recair o apelo do quarteto barreirense.
A dupla Afonso Ferreira (Bateria) e David Yala (Baixo) monta o cenário e estende o groove para que as tímidas divagações low fi da voz e da guitarra de André Amado aqui e ali pintalgadas pelos teclados de António Cunha Lopes possam passear entre a garagem e a praia, entre o cinzento e o sol, entre a tristeza com a festa!
Estamos bem, mas poderíamos estar ainda melhor. Está na hora de Chinsakee se juntar à banda em palco para “Gaja” e “Minhas mãos” e levar a festa a ponto rebuçado!































