A maravilha do rock n’ roll, aquele que verdadeiramente salva, é que cabe lá dentro um pouco de tudo. A matriz original, a que aguenta tudo o resto, é a energia.
Falamos disto porque energia é o substantivo que nos vem à cabeça ao ouvir Black Bottle, o disco de estreia dos Bed Legs. Depois de um EP de 2014, estes rapazes da linda cidade de Braga trazem-nos agora o primeiro longa-duração. As coordenadas são as mesmas e estão bem definidas: rock puro e duro, com laivos de blues, um som a cheirar a gasolina, a suor e a cerveja (tudo elogios, obviamente).
Ao longo de nove temas, a bússola não aponta para muitas direcções, e o que se ganha em foco e coesão perde-se um pouco em surpresa. Destacamos o arranque, com “Road Again”, uma música gingona e enérgica, servida por um riff que, de facto, nos dá vontade de saltar para trás do volante e arrancar. “Vicious”, o single de apresentação, é movido por um riff monolítico quase glam, e traz-nos o imaginário rock n’ roll que, nas letras, perpassa praticamente todo o disco.
“Black Bottle”, que dá nome ao álbum, entra mais no terreno do blues, trazendo algum negrume que já pressentíramos da capa. O mesmo sucede com “New World”, e que bem que sabe a subtil utilização do órgão (que podia e devia ser mais aproveitado ao longo do disco). Apesar de tudo, a nossa escolha recai sobre “Love, lies n’ love”, com um tom funk que quase lembra os Red Hot Chili Peppers do início dos anos 90.
Pressente-se pelo disco que estaremos perante um caso sério ao vivo, pelo menos o material pede palco, uma jukejoint perdida algures numa beira de estrada do Alabama. No entanto, aquilo que sobra em energia e garra fica algo aquém em termos de inventividade e de suficiente diferenciação entre as faixas.
Bela banda de bar ou mais do que isso? Há aqui potencial, e teremos de esperar pelos próximos capítulos para tirar as teimas. Pede-se mais risco e mais ousadia, mas sem perder a “tusa” que há neste disco, para dar e vender.