No ido ano de 1993 os U2, uma das maiores bandas do mundo, dá um alegado tiro no pé. Será que foi mesmo assim? Revisitemos a história.
Uma das primeiras perguntas que se faz a quem pretende juntar-se ao Altamont é “O que achas de U2?”. E o propósito da mesma é simples, é a banda que mais amamos odiar, pelo que quem não sentir esse desprezo por Bono e comparsas não veio ao sítio certo. E ainda assim, aqui estou eu a escrever sobre os U2. Possivelmente, quando o leitor acabar de ler este texto, estarei sem emprego e aberto a novas oportunidades, mas vou ao fundo convicto da minha verdade – Zooropa é o único álbum de U2 defensável perante o tribunal Altamont. O facto de ser considerado pela maior parte dos fãs da banda o patinho feio é, por si, demonstrativo quão controversa é a hipótese colocada em cima da mesa com este texto. Ora atentem então às minhas alegações.
Alegação 1: Brian Eno, juntamente com Flood, foi chamado à produção e deu ao disco uma envolvência única. Aproveitaram alguns loops que estavam a ser utilizados nos soundchecks dos concertos, fragmentos de canções que estavam na prateleira, dando um lado alternativo a uma banda que era nessa altura uma das mais mainstream do universo musical.
Alegação 2: O experimentalismo da coisa. Muito longe dos primórdios pós-punk da banda, longe do rock baladeiro dos seus discos de fim dos anos 80, metendo musica electrónica ao barulho. Se fosse para puramente agradar aos fãs os U2 certamente não precisavam disto, mas preferiram experimentar. Achtung Baby já foi um (bom) prenúncio, mas a meu ver é aqui que conseguem o equílibrio certo entre as suas raízes e a introdução de novos elementos na sua sonoridade.
Alegação 3: A pressão. Zooropa foi um filho não programado – era suposto a banda aproveitar o intervalo entre as duas partes da sua tour Zoo Tv para ir para casa descansar, mas Bono e The Edge não estavam para aí virados e convenceram os restantes membros a fazer um EP para criar maior entusiasmo perante a parte europeia da tour (que já se chamava Zooropa). O tempo estava contra eles mas, com a veia criativa a pulsar, acabaram com vinte músicas nas mãos e no fim decidiram-se por um longa duração.
Alegação 4: A estranheza que se entranha – “Numb” é idiossincrática, difícil, abjecta.
Alegação 5: Até Johnny Cash foi metido ao barulho, dando voz a “The Wanderer”, canção que fecha o disco.
Alegação final e mais forte de todas: “Stay (Faraway, so Close!)”. Que portento de música, que intensidade, que excelente vídeo dirigido por Wim Wenders, colocando os membros da banda como os anjos do seu filme “Faraway, so Close!”, sequela de “As Asas do Desejo”. A canção tem uma beleza lânguida, transmitindo uma emoção suave e discreta que parece estar em desacordo com a desorientação das letras, mas que nos envolve na sua incerteza.
Encerro assim as minhas alegações. O juiz que decida o que quiser, que eu sinceramente estou-me a borrifar, Zooropa continuará a ser um dos discos da minha coleção, o único de U2, que volta e meia salta da prateleira e vai ao leitor.