O mundo apercebeu-se dos escoceses Travis no virar do milénio, aquando do seu segundo disco, The Man Who. Depois da implosão da britpop, foram os Travis quem ganhou o seu espaço e, puxados por singles como “Why does it always rain on me?” ou “Turn”, ascenderam ao topo da primeira liga britânica. Foi um momento de transição, com uma nova geração à procura das suas referências e não as dos seus irmãos mais velhos. Os escoceses chegaram primeiro, e esse disco inaugurou uma breve era de popularidade para a pop melódica, abrindo caminho para coisas como os Coldplay, ou pior, os Keane.
A verdade é que The Man Who era um disco enorme, e continua a ser um dos trabalhos mais bem conseguidos da época. O som melancólico e doce dos Travis deu-lhes, naturalmente, tantos fãs como detractores. Ainda assim, o estado de graça artístico ainda durou pelos dois discos seguintes, The Invisible Band (2001) e 12 Memories (2003). Desde então, os Travis deram-nos mais três discos, mas saíram definitivamente de moda, e do radar do mundo.
Agora é hora de regresso, com Everything At Once, que nos traz de volta a voz e as letras de Fran Healy, o homem na base de tudo. A força desta banda está nas suas melodias, nas suas baladas ligeiramente aceleradas, no carácter ao mesmo tempo intimista e celebratório dos seus temas. De tudo isto há com equilíbrio neste novo disco. Os fãs de sempre não encontrarão aqui nada de novo, mas sejamos claros, ninguém gosta dos Travis porque eles querem mudar o mundo numa rodela.
Para além do som ‘trademark’ de Healy (uma das vozes mais bonitas e expressivas dos últimos anos), temos neste álbum um piscar de olho ao disco de estreia, Good Feeling (1997), com a pop a dar algum lugar ao pub-rock em temas como “Magnificent Time” e “Everything At Once”, ou ao indie, com “Radio Song”. Mas onde os Travis mais se destacam, naturalmente, continua a ser na sua zona de conforto, a pop que tanto deve a McCartney como à estreia dos Coldplay. Aqui, falo de “What Will Come”, que abre o disco, “Idlewild” e, sobretudo, de “3 Mile High”, uma pérola pop de recorte clássico que mostra, em menos de três minutos, a razão pela qual os álbuns de Travis ainda podem ser santuários em que podemos encontrar o refúgio no meio de todo o barulho do dia a dia actual.
Em 1999, o autor deste texto lidou com um desgosto de amor deitando mão a The Man Who. Sendo mais verdadeiro, chafurdou nesse desgosto ao som de The Man Who. É difícil imaginar o mesmo acontecer com Everything At Once, mas se calhar a culpa não é dos Travis, que continuam a construir o seu mundo intimista, uma música de cada vez. Se calhar fomos nós que crescemos, e o mundo que se afastou de uma banda que, em tempos, pôde salvar muitas vidas.