Tomás de Papel é um jovem artista que recorre a sonoridades antigas para dar voz às inquietações da geração Z. Desconcertante Modo de Vida é o seu disco de estreia e conquistou não só os meus ouvidos, mas também o meu coração.
O disco chegou até mim por intermédio de uma querida amiga e, confesso, senti, no início, um certo preconceito musical (e eu, como Bukowski, tenho muitos quando se trata de música). Felizmente, esse preconceito desfez-se no instante em que o meu dedo indicador carregou no play.
Lançado em maio do ano passado, o álbum foi gravado nos Blacksheep Studios por Francisco Dias Pereira, com produção de Tomás de Papel e dos músicos que o acompanham: Carlos Bb (Keep Razor Sharp) na bateria, Luís Judícibus e Francisco Dias Pereira (Them Flying Monkeys) no baixo, teclados e guitarra. O disco é lançado pela Bite Records, uma editora independente de Coimbra, tal como o próprio Tomás.
Na sua música, Tomás bebe influências do indie rock e do pop folk, oscilando entre momentos que evocam Yo La Tengo e outros que remetem para Sufjan Stevens, por exemplo. Para alguém que viveu intensamente os anos 90/00, como eu, é uma verdadeira delícia. O mais interessante é que, em ambos os registos, o jovem artista conimbricense revela uma maturidade musical que faria inveja a muitos artistas consagrados.
Tomás de Papel tem uma escrita profunda e emocional, que mistura angústia e a procura por respostas. Como ele escreve em “Ressaca”:
“Hoje acordei a arder em fogo que aticei
E procurei um poço fundo para o extinguir
Faço-me de surdo,
Pouco contra mim quero ouvir”
Jogando com o que é real e o que é abstrato, entre o sufoco e a busca por liberdade, nos seus poemas, Tomás fala sobre solidão, a procura de sentido e o impacto das relações, tanto pessoais quanto interpessoais.
Tomás de Papel é uma prova de que a nova geração está a assumir a música com uma voz própria e autêntica. Embora não procure reinventar a roda, a sua mistura de géneros musicais, aliada a uma escrita introspectiva e sensível, faz-nos acreditar que estamos perante uma grande promessa da música nacional. É bom saber que os GenZ estão empenhados em fazer boa música, e Tomás é um exemplo claro desse movimento, com o seu talento e criatividade a conquistarem cada vez mais espaço.