Os The National apresentam-nos um disco suave e ternurento, longe dos tempos áureos, mas com um leque de canções bastante decente.
São já 24 anos de carreira e nove os trabalhos de estúdio de uma das bandas mais acarinhadas pelos portugueses – e que gosta tanto de Portugal que a quantidade de concertos que cá dão já é alvo de piada. Os The National chegam agora com “First Two Pages of Frankenstein”, um disco sereno e recheado de canções bonitas (ainda que pouco memoráveis) e bem produzidas.
Depois de um tiro mais ao lado com “I am Easy to Find”, em que o enorme número de colaborações de vozes femininas fez perder um pouco a essência dos The National – e que está na voz de Matt Berninger – este “First Two Pages of Frankenstein” emenda ligeiramente a mão e faz-nos lembrar trabalhos como “Trouble Will Find Me” ou “Sleep Well Beast”.
Procurando surpreender, os The National voltam-se novamente para as colaborações, chamando de novo como Taylor Swift (uma repetente improvável em trabalho conjunto e de excelentes resultados com os “Sad Dads”), Phoebe Bridgers e ainda Sufjan Stevens, o que ajuda a tornar este disco muito suave e etéreo.
O disco abre com “Once Upon a Pooltime”, com Sufjan Stevens, que marca o tom do que aí vem. A maturidade traz uma nova leveza mas não perde o tom triste que caracteriza a banda.
“New Order T-Shirt” dá-nos um dos momentos mais bonitos do disco, cheio de recordações dos trabalhos mais antigos da banda. Logo a seguir, a colaboração com Phoebe Bridgers em “This isn’t helping” é toda ela doçura. E o single, “Tropic Morning News”, regressa ao som ligeiramente mais dançável para concerto de, por exemplo, “High Violet” (esqueçam os tempos de “Mr. November” ou “Abel”, provavelmente já não voltaremos a ter esse tipo de gritaria em mais nenhum disco dos The National”).
O disco vai avançando até chegar ao tema com Taylor Swift, um dos mais ouvidos deste trabalho e que mostra que colaborações improváveis dão, por vezes, resultados bastante positivos. As duas vozes ligam perfeitamente, parecem conversar, criando uma canção quase declamativa. Mais à frente, em “Your Mind is Not your Friend”, Phoebe Bridgers ainda regressa para emprestar novamente a voz, acompanhada por um piano delicado. A fechar, “Send for Me”, pouco memorável, mas decente o suficiente para constar deste disco.
Desiludam-se os fãs hardcore dos primeiros trabalhos do quarteto norte-americano. Não estamos a falar de um disco ao nível do épico “Boxer” ou até do menos bem conseguido, mas ainda excelente “High Violet”. Os The National envelheceram, e há quem diga que envelheceram mal. Não é essa a opinião desta escriba: envelheceram sim, mantendo o registo de, lá está, “sad dads”, mas entregam um álbum bastante decente, para um público que envelheceu com eles, cheio de canções doces e ternurentas, sem a raiva e os vapores alcoólicos dos tempos áureos de “Alligator”.
Se sentimos falta? Claro. Mas temos sempre, todos os anos, um concerto onde, por enquanto, conseguimos matar a nostalgia daqueles momentos mais raivosos e primários de Berninger – mesmo sem rebolar pelo chão, cair no palco, andar por cima de cadeiras ou no meio do público ou atirar copos de vinho branco. E, cantaremos sempre juntos, a capella, sentindo-nos também um pouco mais velhos, sad dads and sad moms, o enorme hino “Vanderlyle Crybaby Geeks”.