O belíssimo disco de Kamasi Washington, de 2015, fez-me regressar a Electric Byrd, disco do excelente Donald Byrd, lançado em 1970. E lembrou-mo pela criatividade, pelo risco assumido, pelos inúmeros músicos com quem partilha uma jornada épica e pela “capacidade em fazer pontes” (enfim, já citamos Marcelo…) entre géneros musicais.
Donald Byrd foi sempre jazz? Foi sim senhor, mas nem sempre foi apenas jazz, se o entendermos de forma profundamente purista. Quando se libertou dos limites a que se impôs até meados dos anos 1960 (não deixando, note-se, de fazer belíssimos discos dentro desse cânone), tornou-se um nome maior do seu tempo, como, diria, Kamasi Washington o conseguiu este ano.
Muitos falam deste disco (talvez o meu favorito de Donald Byrd, embora ache que tem pelo menos uma mão cheia de álbuns magistrais) como uma resposta a Bitches Brew, lançado pouco antes, e a verdade é que, embora evidentemente Donald Byrd não tenha seguramente tido a intenção de responder a quem quer que seja, a vibe é a mesma: há viagem para além da técnica, há liberdade bem disciplinada mesmo quando a rota temporariamente se perde. “The Dude” é um dos exemplos: com menos de oito minutos é a mais curta de “Electric Byrd”, e fecha-o em beleza. “Fusão” da boa, liberdade máxima, revolução. Enfim, arte.