Regressámos ao Super Bock Super Rock, com um primeiro dia a rebentar pelas costuras de tanta promessa que se vê espalhada pelos palcos.
Dos antípodas para o Meco, Marlon Williams trouxe a bateria carregada pronta a distribuir pela parca plateia, que aos poucos foi povoando o palco EDP. Poucos, mas de garganta afinada, foram trauteando ao som do indie folk e pela terceira música já Marlon Williams tinha toda a gente a dançar, num concerto sólido onde tudo lhe saiu bem. Até um “fado” cantou! O concertou terminou com uma homenagem aos Bee Gees, a sua banda favorita, e “I Started a Joke”. Seguro de si não só como performer mas como entertainer destinado a palcos maiores, merecia outro destaque no cartaz da 25ª edição do Super Bock Super Rock, desta feita de regresso ao local de onde nunca devia ter saído.

Pelo palco LG os Madrepaz deram-nos um banho de pop xamânica para acompanhar o pôr-do-sol. Com direito a projeções psicadélicas, o grupo percorreu a sua curta carreira, tocando todas as canções obrigatórias, com algumas surpresas pelo meio, num concerto animado, salpicado de momentos pitorescos, como a sua versão de “Time to Pretend” dos MGMT com uma letra original em português ou a jam krautrock de “Salsa Xamani”, que foi recebida com generosidade por um público agradecido. O concerto desintegrou-se no climax noise de “Se Mifri-o Demoran-go” uma escolha peculiar feita por um grupo peculiar.
Os londrinos Jungle são já presença habitual num qualquer festival português… e ainda bem. Desta vez sem falhas de som (estamos a olhar para ti, Super Bock em Stock), a selva desceu à herdade e o palco Super Bock transformou-se numa gigante pista de dança. Os Jungle foram iguais a eles próprios e deram tudo numa hora, alternando entre álbuns e portaram-se como uma banda de palco grande, tendo sempre a companhia do público que cantou todas as suas músicas. São já uma banda crescida, formada em 2013 e com apenas dois (ótimos) álbuns, mas que esteve constantemente em digressão por todo o mundo sempre com esta garra de quem deixa a pele no palco em nossa prol. Como alguém disse na plateia, concertos de Jungle, “podiam ser todas as semanas a esta hora”. Concordamos.

Começam a faltar palavras para descrever a energia num concerto do Rapaz do Futuro. Tiago Miranda e os seus “bebés”, como carinhosamente chama à sua legião de fãs, estão ligados umbilicalmente e juntos, trazem ao de cima aquilo que nos leva a ir a um concerto, a comunhão, a alegria, boa disposição e desta vez, umas boas gargalhadas. Humilde como sempre, parece continuar a viver um sonho. Fazem falta artistas que transmitam este grau de genuinidade. O público acorreu em massa, enchendo o palco Somersby como se os The 1975, que tocavam à mesma hora, nem existissem. Conan Osiris deu show, trouxe consigo o bailarino João Reis Moreira, que o acompanha desde sempre, mas desta vez trouxe também um violoncelista e um flautista. A diferença foi esmagadora, resultando num concerto muito mais dinâmico do que os que o músico deu no ano passado, com mais nuance nos arranjos. Longe vai o concerto na Galeria Zé dos Bois. A crescente confiança do iconoclasta notou-se não só na sua entrega às canções que já bem conhecemos mas também nas suas mais frequentes interações com o público.
De volta ao palco Super Bock, foi possível observar os The 1975 a trocar os céus cinzentos de Manchester pelas palmeiras reluzentes de Los Angeles, tornando-se numa banda californiana. O indie rock ainda está lá, de alguma forma, mas as guitarras foram substituídas pelos sintetizadores vaporosos num concerto que tinha mais de funk do que rock. O ponto alto do concerto foi “TOOTIMETOOTIMETOOTIME” cujo auto-tune foi feito para os festivais. Se toda esta combinação parece excessivamente foleira é porque é mas não podemos ficar chateados quando esta nos foi entregue com o abandono que os The 1975 demonstraram em palco.

Sem os adereços teatrais que habitualmente constituem os seus concertos, os Metronomy estariam preparados para, à partida, dar um espetáculo mais focado, com uma maior ênfase na performance e na música em si. Infelizmente, a banda de Joseph Mount continua a ter dificuldades para se encontrar em palco. Foram de tempo e com o volume ora muito alto ora inaudível, foram massacrando faixa após faixa, deixando-nos a pensar que o auto-tune poderia ser o seu melhor amigo. Uma banda com composições extremamente interessantes e com duas mãos cheias de músicas orelhudas, é verdadeiramente uma pena, na opinião destes vossos escribas. Nem a euforia dos sintetizadores saltitantes de “Love Letters” pode aquecer o palco que pouco há-de ter arrefecido depois de ter sido abandonado. Confirmou-se mais uma atuação medíocre, desta vez esforçada. Talvez não dê para mais.
Finalmente, o momento pelo qual todos ansiávamos: Lana Del Rey regressa ao Meco… com quinze minutos de atraso. A impaciência foi rapidamente dissipada aos primeiros acordes de “Born to Die” que foi elevada a estatuto de hino com ajuda do público. O concerto foi maioritariamente dedicado a canções antigas como “Blue Jeans” cantada com uma intensidade nunca antes vista ou Off to the Races, num arranjo mais grunge. Lana Del Rey trouxe um bocadinho do seu mundo para o Meco, com um cenário coberto de palmeiras e um baloiço gigante. Foi no entanto nas canções mais recentes que fomos mais generosamente recompensados. Em “Mariners Apartment Complex” parecia que a cantora estava prestes a chorar de tão intensa que era a encarnação do seu papel na narrativa a música. Diga-se aliás que Lana Del Rey entrega-se de corpo e alma às personagens que cria no seu universo muito específico. Mas nem todo o concerto foi tão dramático. Porque julho não nos traz apenas “Summertime Sadness” a cantora tornou o ambiente mais ligeiro com a sua interpretação “Doin’ Time”, o hino de verão dos Sublime, com um arranjo mais enérgico do que as suas composições mais recentes. Por fim, os dez minutos que compõem um dos seus singles mais recentes, “Venice Bitch”, passaram a correr, ao contrário do que acontece com a versão de estúdio. Depois de uma breve interação com os seus fãs, Lana Del Rey despediu-se mais uma vez do Meco e as saudades já apertam.
Texto: Miguel Moura com António Fragoso || Fotografia: Inês Silva