Existem poucos álbuns inteiros que oiço até à insanidade e em repeat no meu carro, e este é um deles.
Estávamos em Maio de 2011 e fui ver Sufjan Stevens ao Coliseu de Lisboa. Pois que o senhor vinha apresentar o seu novo álbum The Age of Adz, que eu desconhecia. Devo dizer para meu próprio embaraço que só conhecia a célebre música “Chicago” do álbum Illinoise de 2005. Confesso até que não sabia muito bem como se chamava o senhor (duplo embaraço). Acrescente-se, apenas para aumentar a cultura musical dos excelentíssimos leitores, que o Sr. Sufjan pretendia fazer um álbum por cada estado Americano (grande maluco), ideia que depois abandonou (se calhar depois de olhar para um mapa dos EUA).
Assim, em 2010, Sufjan Stevens lança o álbum The Age of Adz. E em 2011 veio cá apresentar o dito. Devo confessar que prefiro ir a concertos de artistas que já conheço e se já conhecer o trabalho que vêm apresentar, tanto melhor. No entanto, aberta esta excepção, fui presenteada com toda uma avalanche de novidade e surpresa. Antes de mais, o concerto foi insano: terminou com uma chuva de balões e com o meu maxilar dorido de ter mantido a boca escancarada perante tanta loucura boa. Pensava que o tipo só fazia músicas calminhas e que se limitava a estar ali no seu lamento, mas não… E assim posso fazer a ponte para o álbum, que, meus senhores, não é nada semelhante ao que Sufjan Stevens fez no passado. E isto fiquei eu depois a saber, e porquê? Porque fiquei tão abismada com o concerto que tive de ir procurar mais informação sobre o artista em questão. Há efectivamente uma fronteira, um Sufjan AA e DA, antes de Adz e depois de Adz. Todo o álbum é pautado por uma espécie de música electrónica orquestrada que é impossível de explicar aqui por palavras. Só mesmo ouvindo e experienciando é que podem confirmar, caso gostem, até onde este louco vos pode levar.
As duas primeiras músicas são calmas, mas a partir da terceira vemos o motivo pelo qual eu gosto de dizer que este álbum é meio esquizofrénico. “Too Much” é uma música que tem de ser ouvida em altos berros, e de preferência no carro. Para mim é perfeita. E as invenções que o autor faz com a composição de vários arranjos (que aliás se verifica ao logo de todo o álbum), é sensacional. Logo a seguir surge uma música com o mesmo nome do álbum que faz com que ainda seja possível aumentar o volume mais um pouco e acompanhar os coros. Sim, tem ali uma parte tipo coro. E sim, adoro. Sem vergonhas. E sem vergonha também para cantar de forma desmedida no carro, adoro que pensem que sou louca, especialmente aos berros dentro dum carro. “Now That I’m Older” permite-nos baixar a intensidade da loucura e acalmar um pouco o coração aos pulos, mas é sol de pouca dura porque a seguir surge “Get Real Get Right”, e não temos outra possibilidade que não seja a de voltar à loucura anterior.
A música seguinte acalma novamente (parece que o tipo nos quer baralhar com uma mexida e outra mais calma), mas depois… Depois vem “Vesuvius”, e essa é simplesmente deliciosa, como explicar? Desde a letra em que ele canta para ele (“Sufjan, follow your heart; Follow the flame, or fall on the floor; Sufjan, the panic inside; The murdering ghost that you cannot ignore”), aos arranjos musicais, as vozes… Oiçam. Existem coisas que de facto não podem ser explicadas.
O álbum termina com outras 3 músicas das quais tenho de destacar “I Want to Be Well”, que tem um ritmo subtil que me faz abanar a perna, confesso. E a última “Impossible Soul”, tem 25 minutos e passa por diferentes fases, ficando no ouvido “we can do much more together, it’s not so impossible”, uma parte alegre desta música que nos faz apenas felizes, naquela simplicidade de ser tão bom ser feliz apenas por ouvir uma música que gostamos.
No fim de contas, este álbum é uma viagem que parece caótica, errática, mas que no fundo tem um caminho e tem um propósito. Percebe-se que existe uma ordem no meio daquilo que parece radicalmente diferente, novo e caótico. Há toda uma confusão de sons que poderia resvalar para a cacofonia, não fosse o artista um grande artista! E o meu maxilar nunca mais foi o mesmo. Foi mesmo um concerto avassalador e descobrir a sua obra post-concertum foi bastante espectacular.