Promessa cumprida! Em 2011, os You Can’t Win, Charlie Brown deram-se a conhecer como o conjunto de mais promissor talento na Lusitânia.
Passados três anos, regressam para comprovar que Chromatic não era fogo de vista. Com Diffraction-Refraction a primeira lição que aprendi foi que a perfeição pode ser aperfeiçoada. No primeiro LP tudo me soou magistral, aliás, continua a soar. Neste novo álbum, tudo soa ainda mais intenso, denso, enfim, sublime.
Do primeiro para o segundo disco, os YCWCB amadureceram tremendamente. Os meses na estrada e no palco fizeram-nos crescer, tornaram-nos mais cúmplices e ajudaram cada um a tomar melhor consciência do seu lugar – no mundo e na banda. Então pegaram em tudo o que já sabiam, adicionaram a vivência, competências e conhecimentos adquiridos e juntaram-se numa sala para Criar.
A obra que daí resulta é filha da Perfeição e da mais pura Beleza. Porque foi feita com virtuosismo e sabedoria, mas também porque estes rapazes têm um bom gosto tremendo. Também têm as doses certas de modéstia e não estão com o rei na barriga. Podiam, mas não estão (mais um sinal de genialidade?).
Diffraction-Refraction é uma peça de 42 minutos, com 11 actos, feita para ser ouvida como um todo mas onde cada música é o seu próprio mundo. Em cada canção criam um ambiente labiríntico, do qual não queremos encontrar a saída.
No primeiro álbum, a capa e o título davam o mote para um disco cheio de cores. Também a capa de Diffraction-Refraction desvenda o tom, mais sóbrio mas não sombrio. Mais sereno que o antecessor, este disco revela-nos uma banda bastante confiante na sua capacidade de criar. Virtuosos já eles eram em Chromatic, mas nesse disco queriam mostrar tudo em todas as músicas. Desta vez optaram por retirar as camadas que que não fossem vitais a cada canção e tudo está ainda mais arrumado. Continuam a ser uma verdadeira orquestra, com muita coisa a acontecer ao mesmo tempo, mas na mais pura harmonia, sem a mínima balbúrdia.
A música que fazem é elegante e sofisticada, poderá inserir-se numa prateleira de indie-rock-folk (inspirações em Grizzly Bear ou Fleet Foxes), mas também podia ser música clássica, de tão elaborada e intensa. Todas as canções são épicas. Começam em lume brando, com um dedilhar de viola quase flamenco ou umas teclas cautelosas, aos poucos vão aquecendo até explodir numa polifonia grandiosa e luminosa. Brilhantes oradores através de melodias, os YCWCB captam-nos a atenção também com contrastes constantes – não ficam muito tempo a fazer a mesma coisa. A seguir à explosão, o lume volta a baixar, as exclamações passam a afirmações e, quando o nosso ritmo cardíaco já está perto de abrandar, voltam à carga com novo estrondo. Em cima disso, cantam invulgarmente bem.
Menos soalheiro que o disco anterior, o novo álbum não é tão imediato e se calhar não entra logo à primeira, mas à segunda audição estas canções atingem-nos o córtex como flechas, alojam-se e dificilmente saem. É um disco luminoso, brilhante e carregado de esperança. Nem consigo explicar bem como, mas cada vez que acabo de ouvir este disco, acredito que tudo vai correr melhor.
Com Diffraction-Refraction, os You Can’t Win, Charlie Brown confirmam que são uma das melhores e mais entusiasmantes bandas portuguesas da actualidade. Têm crescido sustentadamente, com passos firmes e determinados na direcção certa.
Em “Shout” (talvez a melhor música do álbum, se bem que é impossível eleger uma porque cada canção é melhor que a anterior), eles resumem tudo isto e anunciam: “We’re taking over by surprise/and we won’t let go”!!