O terceiro álbum dos Sonic Youth, EVOL, é a primeira obra-prima dos nova-iorquinos. Um corte com os devaneios anti-pop dos dois primeiros discos. Uma síntese, bem mais interessante, entre imaginação melódica e dissonância experimentalista.
Os Sonic Youth nasceram das cinzas da no wave nova-iorquina, e levaram bem a sério essas credenciais nos inacessíveis dois primeiros álbuns (Confusion is Sex, Bad Moon Rising). A banda em todo o seu esplendor aparece só ao terceiro disco, quando se libertam do preconceito contra a melodia e começam a escrever canções. EVOL mantém, contudo, as afinações alternativas dissonantes e o gosto pelo ruído e pela experimentação. Esta mistura de corrosão vanguardista com acessibilidade pop foi fundamental no nascimento do alternative rock. A sua influência é incalculável: desde Hendrix que não tinha havido uma reinvenção tão radical das possibilidades da guitarra eléctrica.
Dos discos anteriores, EVOL herdara a melancolia mas descartara a raiva. A sua desolação é doce e sonhadora, entorpecendo-nos com o seu langor, como quem lê um conto gótico no aconchego de uma cadeira de balouço. A voz sussurada de Kim Gordon está carregada de erotismo noir, sedutora mas amaldiçoada. Sister e Daydream Nation serão mais afamados mas, na verdade, nada bate o negrume misterioso e atmosférico deste álbum.
A entrada do baterista Steve Shelley é decisiva. O rigor com que marca o ritmo dá um novo ingrediente à banda: estrutura. Num colectivo com tanto caos e imprevisibilidade sónica, é reconfortante haver alguém como Shelley: o desgraçado que não bebe para poder levar os amigos bêbados a casa.
A noise pop de EVOL traz uma invenção estética que se tornaria imagem de marca dos Sonic Youth: o interlúdio intrumental que interrompe radicalmente a melodia da canção para um devaneio de ruído e assombração. É o espaço, por excelência, para a banda expressar as suas inclinações mais experimentalistas e avant garde.
EVOL é um daqueles discos que nos faz gostarmos de gostar dos Sonic Youth. São tão urbanos e noctívagos e arty e sofisticados, que nos apetece comprar o vinil só para que toda a gente na loja saiba que somos tão cool. Termos ou não um gira-discos em casa é, para o caso, irrelevante.