No seu último disco, Solange desconstrói-se ainda mais, criando um disco genuíno e com uma personalidade muito vincada.
O que dizer de Solange nesta altura do campeonato? A Seat at the Table mostrou-nos a sua maturidade e confiança em relação às suas faculdades musicais. When I Get Home surge no seu panorama musical como o suspiro de alívio de uma artista que está mais preocupada em seguir a sua musa do que em provar o seu valor aos críticos e às massas.
Esse alívio e descontração estão patentes no alinhamento, constituído principalmente por canções curtas, minimalistas e sem grande apego por estrutura ou coerência. A arritmia de “Things I Imagined”, produzida por Chassol, dá o mote ao disco, com os seus teclados gelatinosos e as incontáveis camadas de harmonias no final. Que não se pense, no entanto, que a curta duração das canções implica que estas estejam incompletas ou mal passadas: “Down with the Clique”, “Dreams” e “Almeda”, quando ouvidas fora do contexto do disco, provam ser hinos incontestáveis.
Não descurando do talento de Solange, que escreveu e produziu a totalidade de When I Get Home, a lista de colaboradores e co-produtores podia ser lida como uma lista dos músicos mais interessantes destes últimos anos, como Standing on the Corner (que co-assinam a maioria da produção), Earl Sweatshirt, Tyler the Creator, Steve Lacy e Panda Bear.
Mas o que dizer das músicas? Temos um pouco de tudo. “Exit Scott” conta com o baixo de borracha de Steve Lacy antes de se desmoronar num coro gospel fantasmagórico. A música que lhe precede, “Beltway” é um mantra hipnotizante de devoção e entrega quase ambient no seu minimalismo. Em “My Skin My Logo”, Solange, aparentemente intoxicada, improvisa um verso dedicado a Gucci Mane, por cima de uma groove constituída por pouco mais do que uma linha de baixo e um beat simples. Mais sofisticada é “Time (Is)” que muda inesperadamente para um tempo de 5/4 na sua bridge.
When I Get Home insere-se numa linhagem de R&B alternativo, íntimo e experimental que se tem começado a alastrar na segunda metade desta década. É também um dos seus expoentes mais valiosos e, sem sombra de dúvida, um dos melhores álbuns deste ano.