Noite arrebatadora no Tivoli, com Sílvia Pérez Cruz em todo o seu esplendor, voz, corpo, banda, o bonito ofício de fazer música e mexer com a alma dos espectadores.
Como o ano de 2016 já vai longe, e com certeza ninguém se lembrará das palavras aqui por mim proferidas a respeito de Sílvia Pérez Cruz nessa altura, vou fazer um copy paste maroto desse texto, que continua manifestamente actual:
“o nome Silvia não está nesta lista de furacões atlânticos, mas estaria certamente se conhecessem Sílvia Pérez Cruz. Porque estar numa sala de concerto a ouvi-la cantar é de tal forma arrasador, intenso, arrepiante que é impossível ficar incólume.”
Em Portugal não temos grande experiência em lidar com furacões, só isso poderá explicar que cerca de duas mil pessoas se tenham enfiado no Tivoli, nas noites de 4 e 5 de Junho, para serem levitadas no ar, deslocadas por um vento imparável, lançadas aos rodopios durante duas horas e quarenta minutos e depois largadas na avenida de Liberdade, sem quase conseguir proferir palavras sobre o que tinha acabado de acontecer. Ao engano ninguém terá ido, felizmente já tivemos Sílvia connosco em Portugal por variadas vezes no passado, mas a memória esquecer-se-á da intensidade do evento, avivada apenas por novos eventos similares.
Sílvia Pérez Cruz trouxe-nos, desta feita, o seu disco do ano passado, Toda la vida, un dia, cujo conceito foi explicado pela própria em palco – é constituído por cinco movimentos, cada um a representar fases da vida – infância, juventude, idade adulta, velhice e o pós, que se interligará com a infância, na ideia de Sílvia constituindo assim um círculo que se repete infinitamente. Para cada movimento há uma cor, uma sonoridade associada à turbulência dessa fase e a cantora catalã foi-nos guiando pela evolução de toda essa vida, num só dia. A simpatia com que nos brinda a cada história que conta é contundente, somos sugados pelo sorriso, pela beleza, pelo sotaque às vezes português às vezes brasileiro, às vezes cubano às vezes argentino.
Tratando-se da apresentação de disco, foram poucas as canções apresentadas que não fazem parte do mesmo, casos de “Mechita”, um dos clássicos da cantora e, já no encore, “Manãna” e “Cucurrucúcú” num final sublime e que contou com a participação de Salvador Sobral (que também contribui com a sua voz numa canção de Toda la vida, un dia). Houve também espaço para pairar o fantasma de Amália Rodrigues, uma das grandes referências de Sílvia, com excertos de “Barco Negro” e “Lágrima” a ecoar no antigo teatro, cantadas em uníssono com os espectadores.
A felicidade do público no final estava espelhada na cara de cada um, e também na fila que rapidamente se formou atrás do merchandising da artista. O furacão passou, chacoalhou-nos a alma, e abandonou-nos na nossa vidinha do dia-a-dia. O coração também não aguentaria furacões todos os dias.
Alinhamento:
- (AUDIO MÓN)
- INTRO SALIR DISTINTO
- ELL NO VOL
- LA FLOR
- MECHITA
- ATERRADOS
- SIN
- SUCIO
- EL POETA
- SALIR DISTINTO
- ATERRADOS (4 VOCES)
- AYUDA
- MI ÚLTIMA CANCIÓN TRISTE (AUDIO CORO TODA LA VIDA)
- TODA LA VIDA UN DÍA
- TOTS ELS FINALS DEL MÓN
- TODA LA VIDA UN DÍA
- TOTS ELS FINALS DEL MÓN
- EM MORO (CON SALVADOR SOBRAL)
- TOTS ELS FINALS DEL MÓN
- ESTRELAS E RAÍZ
- NOMBRAR ES IMPOSIBLE
Encore
- MAÑANA (BIS DELANTE)
- CUCURRUCUCÚ
Fotografias: Rui Gato










