A música portuguesa tem mostrado uma enorme vitalidade nestes últimos anos. Como costuma acontecer quando a quantidade é muita, dessa vitalidade vem a diversidade, o que é outro facto bem louvável. Mesmo assim, há sempre algo pronto a surpreender-nos, como é o caso da banda lisboeta que dá pelo nome de Signs Of The Silhouette. O que fazem não é só música. Juntam-lhe imagens projetadas em palco enquanto tocam, e todo o seu registo ao vivo oferece esse apelo conjunto aos nossos mais imediatos sentidos. Ver, e não apenas ouvir, portanto. No entanto, há um conceito de encenação nas suas prestações ao vivo que é quase irónica, pois ao mesmo tempo que se mostram, que se apresentam perante o seu público, também se escondem por baixo de mantos e máscaras brancas. Dessa forma, temos de adicionar outro ingrediente ainda aos Signs Of The Silhouette: a noção de drama (entendida etimologicamente como representação) também tem de ser acrescentada à festa. A banda tem dois elementos (Jorge Nuno e João Paulo) e mais um, que projeta em palco as imagens sugeridas pelo som que se ouve. Chama-se Miguel Cravo, o homem do vídeo e da ilustração. A música que estes Signs Of The Silhouette fazem não é para passar na rádio. Longe disso. Não vive de melodias, mas de ruído encenado. Não vive de outra coisa a não ser de guitarras e de bateria. Muito feedback, ritmo, ambiente soturno, caótico, fechado. Procura uma qualquer respiração difícil de realizar. Oferece, mesmo assim, a quem quiser ouvir as suas composições, suficientes encantos para serem escutadas até ao fim.
Neste duplo álbum intitulado Spring Grove podemos «encontrar» algumas bandas que deverão servir de influência a estes rapazes, embora estejam longe de nelas se esgotarem, uma vez que há também uma linguagem musical que nos parece bem genuína. No entanto, qualquer ouvido um pouco mais atento, perceberá neste Sping Grove alguns resquícios de Sunn O))), de Godspeed You! Black Emperor, até mesmo de Slomo, embora em paisagens sonoras um pouco menos estáticas. Sabem o que fazem e sabem bem o que ouvem, estes Signs Of The Silhouette. São, em certa medida, concetuais, uma vez que evocam alguma ordem dentro de um cenário aparentemente caótico e feérico. A postura musical é bem far out, vinda de uma trip cósmica longa e sinuosa. É musick to play in the dark (esta referência ao disco dos Coil tem apenas a ver com o título, não com o conteúdo) com flashes de luz, de memórias, de momentos perdidos no fundo dos tempos.
Este mais recente trabalho da banda de Lisboa tem apenas quatro composições. Ao todo, estas «Track 1», «Track 2», «Track 3» e «Track 4» formam um bloco sonoro de cerca de oitenta minutos. Digerir todo este som não é coisa fácil, mas isso é pouco importante para o caso. Ouvir de seguida o disco em questão é tarefa para homens de barba rija e ouvido adulto. Mas, no fundo, aquilo que aqui queremos dizer é que estes Signs Of The Silhouette merecem bem a nossa atenção. São competentes e sérios. Sabem incomodar-nos deliciosamente, e isso é coisa que devemos valorizar. Se já são bons em disco, ao vivo devem ser ainda melhores, pelo que terminamos sugerindo que vejam (e ouçam) os vários clips que podem encontrar nos ares da net referentes aos seus concertos em Lisboa e no Brasil, na tour de 2013. A música portuguesa, como bem referimos no início destas linhas, não para de nos surpreender!
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