Quando nos chega aos ouvidos que Ray LaMontagne vai lançar um novo álbum, é fácil imaginarmos a lareira acesa e o cheirinho a terra molhada. Carregamos no play, deitamo-nos no nosso sofá, enrolamo-nos na manta e aguardamos que a sua voz rouca e doce nos conte belas histórias. Sabemos que a sua guitarra acústica e o seu folk rock nos vai fazer óptima companhia. Só que ao quinto álbum, o singer-songwriter americano resolveu baralhar e dar de novo.
Já passaram 10 anos desde o seu primogénito Trouble, considerado um dos melhores discos desse ano pela Billboard. Quatro álbuns e um Grammy depois – pelo God Willin’ & The Creek Don’t Rise (2010) – eis que surge Supernova. E o folk ficou mais bluesy, e a acústica ficou mais eléctrica. Tudo por culpa de Dan Auerbach – sim, o rapaz dos Black Keys – a quem LaMontagne gentilmente pediu para produzir as suas novas canções. Supernova é o mais fresco e aventurado disco da sua carreira.
Para além do dedo mágico de Dan Auerbach, conseguimos identificar algumas outras boas influências. Encontramos as pegadas de Zombies na belíssima «Lavander», algo de «Crazy Love» de Van Morrisson em «Airwaves», um cheirinho a Otis Redding em «Pick Up a Gun» e «Ojai» ou mesmo a Fleetwood Mac em «Supernova».
Mais do que uma evolução ou transformação, o quinto álbum de Ray LaMontagne é um catalisador das suas melhores influências. As suas composições continuam a ser boas de ouvir, mas a colaboração com o homem dos Black Keys elevou o nível de musicalidade. Distorções em doses certas, guitarras eléctricas que sofisticam as acústicas, percussões mais electrónicas, órgãos velhos e um trabalho vocal irrepreensível. Supernova é o momento decisivo da carreira de LaMontagne e uma viagem bonita, do início ao fim. Dos álbuns que mais gostei de descobrir este ano.