Sarah Davachi é um lugar de contemplação, onde o interesse é devolvido à escassez de meios, colocando o minimalismo em plena ordem do dia.
No passado dia 13 de Março, depois de Yu Lin Humm abrir o jogo entre o silêncio e as cordas do violoncelo, a compositora californiana Sarah Davachi subiu ao palco da Galeria Zé Dos Bois para nos trazer uma austeridade particular, uma austeridade que aquece. Os padrões faseados (aqui fazendo a referência aos Phase Patterns de Steve Reich) com que começou o concerto, cordas rarefeitas de decadência analógica, demoraram – com a demora necessária – a abrir caminho para os harmónicos drones que tomaram lugar central no repertório trazido por Davachi. Nesse lugar, no extremo severo do drone, Sarah Davachi deu tempo ao tempo. Houve lugar para a contemplação e a meditação, para a certeza mas também para a dúvida, nas frequências que navegam e oscilam, dançando e harmonizando num contido céu de reverb.
Novos elementos surgiam lentamente, sempre com essa demora necessária e precisa, conferindo espaço e pertinência a todas as mudanças que a artista, serena e solene, ia fazendo. Os órgãos que íamos ouvindo eram ascensão para público e artista, como que sonorizando a cerimónia de uma fé secular singular, música de igreja despida de confissão mas plena de expressão.
Terminando como acabou, Sarah Davachi fechou o ciclo com mestria, deixando-nos naquele bom limbo de plenitude pós-concerto. A satisfação completa do arrepio perfeito, que liberta a quantidade exacta do que quer que seja que se esconde no vazio.
Fotografia: Francisco Fidalgo