Som, luz. Síntese, arpeggios, betão, minimalismo, brutalismo. Caterina Barbieri regressou a Portugal para a estreia em Lisboa, pela mão da BoCA Bienal.
A estreia de Caterina Barbieri em Lisboa fez-se sob o betão cinzento das Carpintarias de São Lázaro, pela mão da BoCA Bienal. Apresentando o mesmo concerto que na última edição do festival Semibreve, em Braga, Barbieri deu-nos a oportunidade de explorarmos de novo os recantos da sua abordagem à síntese modular.
Indo ao cerne de diferentes tipos de ondas sonoras, a compositora italiana trouxe-nos os seus distintos arpeggios, moleculares na sua simplicidade e na forma como as notas se juntam em acordes menores. Drama nas tonalidades do seu instrumento mas também na voz, naquele singular momento do concerto em que Barbieri tece uma elegia de coros pré-gravados com a implacável sequência do sintetizador e as suas próprias cordas vocais, a cappella, música para os congregados na missa electrónica.
Passando por entre material novo, como o recém-divulgado tema “Fantas” – que fará parte do seu próximo lançamento, Ecstatic Computation – mas também pelas partículas aceleradas de Patterns of Consciousness (2017), o pontilhismo de Caterina Barbieri fez-nos dançar. Com oscilações tímbricas entre o techno e o glorioso eurodance, mas sem a batida tão característica de ambos, há na sua música tanto de dança como de ambiental, tanto de minimalismo como de maximalismo, tanto de primordial como de contemporâneo.
O som de Barbieri é misterioso, a sua fonte nem sempre é aparente, mas reconhecemos-lhe os pontos de passagem, tendo porto de abrigo nos nossos tímpanos e sinapses. Com ela, ritmo, transcendência e viagem têm manifestações distintas mas sempre garantidas. Reverberações fortes, tingidas de azuis e violetas sobre betão armado convivem com austeridade sonora, clareza e ruído dialogam num poema sobre a pureza do som, da matéria e da electricidade, diluindo-se as distinções entre som natural, analógico e digital.