Mais uma vez o desamor deu-nos um grande disco de Ryan Adams. Prisoner namora com os anos 80 mas, na essência, é mais do mesmo: um álbum rock cheio de boas canções. Não trará novos fãs ao músico, mas preserva os devotos de sempre.
No ano 2000, Ryan Adams lançou Heartbreaker, primeiro disco a solo. Falava do fim da relação com a publicista Amy Lombardi. Dezassete anos depois, Adams dá-nos Prisoner, e nele aborda o fim do casamento com a atriz Mandy Moore. De lá para cá, tudo mudou e nada mudou: Da dor surge novamente um disco honesto, bonito e sentido.
Prisoner é o 16.º álbum de estúdio de Ryan Adams. Sucede à muito inspirada recriação de 1989, de Taylor Swift, de 2015, e ao homónimo disco de originais, editado em 2014. É, portanto, o primeiro trabalho a condensar material novo de há três anos para cá, não sendo de esquecer que em janeiro de 2015 foi anunciado o divórcio de Adams com Mandy Moore. E não sendo de desprezar como o músico liga as suas emoções e a sua vida à sua criação musical – eis então Prisoner, mais um disco rock de desamor, angústia e tristeza.
“Do You Still Love Me?” e “To Be Without You” foram os primeiros ‘singles’ retirados do disco. No primeiro tema, Adams – sem personalizar – diz que tem pensado nela, conta que mais um ano passará, canta que o sol brilhará mas que os raios não o atingirão. É uma canção rock à maneira antiga, com ecos de Springsteen, órgão, silêncios e um refrão à boa velha maneira americana. Em “To Be Without You”, Ryan, 42 anos, diz ser difícil estar sem ela, e revela como cada noite é maior e mais dura que a anterior. Por fim, assume-se vazio, cansado, desgastado, e “nada mais importa” depois do fim. É a melhor canção do disco e uma das melhores de Adams dos últimos largos anos.
Aqui, importa refletir e dividir em dois a análise a Prisoner. Por um lado, há o lado afetivo e de identificação pessoal. Todos nós já estivemos onde Ryan Adams está, e identificação dá-nos vontade de pegar no homem e dar-lhe um abraço. E o músico? A sorte é que nada há a temer: o músico continua inspirado, a pregar uma doutrina muito própria que continuará a agradar aos fãs de sempre. Os demais, esses, não será em 2017 que verão a luz que Adams transporta.
A harmónica guia “Doomsday” (enorme canção), “Haunted Hause” e “Shiver and Shake” são dois monumentos de beleza minimal (voz, guitarras e pouco mais) e “Anything I Say To You Now” é um quase megalómano tratado de rock de estádio. A segunda metade de Prisoner é menos surpreendente e inspirada, mas não periga o álbum da sua global qualidade.
Prisoner fica na prateleira ao lado de Love is Hell¸29 ou Heartbreaker. Não é um disco otimista. É um disco cru e negro que retrata páginas tristes de vida. Ryan, a vida segue. E enquanto nos deres música como esta, passa para cá esses ossos que a gente vai continuar.