The Sun Dogs bem poderia chamar-se The Sun Gods. Este é um disco que de poucas apresentações precisa, é um disco que canta por si. Ainda assim, há umas quantas achegas a fazer. O disco é introduzido por uma das músicas mais arrepiantes e de fazer derreter ouvidos que foram feitas recentemente. O psicadelismo de guitarras, flautas e arranjos orquestrais é tão bom que faz impressão e nos obriga a repetir a canção antes de avançar mais adiante no disco. É um prazer quase sexual, o que se sente ao ouvir as vozes em “The Sun Dogs I: Spirit Modules” invadir os nossos ouvidos sem qualquer tipo de aviso prévio ou defesa.
E eis que o disco de estreia da banda norte-americana começa definitivamente, com a pujante “Native Dreams”. Serpentes feitas notas musicais, uma batida cheia de groove e a voz hipnótica e cheia de garra de Rabia Shaheen Qazi. “Jesus”, pensamos quando a segunda parte do tema nos enche a mente de choques nervosos e espasmos musculares.
Depois da tempestade, a bonança. “Heavenly Days” é a folk harmoniosa, com uma flauta transversal a dar toques de Jethro Tull, vindo “Walkin’ With a Woman” acentuar a veia de música do deserto, com o seu passeio longo e elíptico. “Season of Serpents” pega na guitarra acústica e na guitarra-slide para enternecer e embalar quem é agraciado pela beleza que a composição de instrumentos e as preces delicadas de Qazi fazem soar.
Uma das coisas que imediatamente se nota em The Sun Dogs – além das constantes parecenças com Grace Slick – é a excelente gravação e mistura do registo. Os Rose Windows foram buscar sons de todas as partes do mundo e juntaram-nos nesta épica sinfonia folk em que tudo soa maravilhosamente. E a melhor maneira de retribuir foi fazer o disco soar magnificamente bem, ficando os louros não só para os executantes mas igualmente para o produtor Randall Dunn, também de Seattle.
Voltando às músicas, perto do fim há uma bela composição de quase dez minutos que é iniciada com o instrumento-rei da música psicadélica – o sitar. Mas as influências indianas não se ficam por aí e estendem-se ao longo da canção, em escalas orientais postas em canto. “This Shroud” termina em explosão para a paz chegar em “The Sun Dogs II: Coda”. A coda – parte final de uma peça musical – do disco é um autêntico esboçar de sorrisos, uma canção do mais bonito e alegre que há, repleta de cordas indianas que dão o toque ecléctico e colorido ao hino.
The Sun Dogs é um disco daqueles que dá uma vontade urgente de correr à loja mais próxima para se comprar e mais tarde recordar e partilhar com os nossos filhos e amigos. Entremos no imaginário dos Rose Windows – em português, as rosáceas da arquitectura gótica – e não saiamos de lá até haver novo disco no horizonte. Deixem-se levar e contaminar; inspirem e expirem o disco até mais não, até todos os poros do vosso corpo estarem completamente cheios de música e cor. São rosas, senhores e senhoras.