Era uma vez um homem original, talentoso, multi-instrumental, proativo e empreendedor – o protótipo do tipo tipicamente tipificado para uma start-up que um dia foram os The Rolling Stones, a verdadeira multinacional do rock and roll (ou tudo aquilo que os U2 gostariam de ser mas nunca foram). Antes de Mick Jagger e Keith Richards começarem aquela relação amor/ódio, apolo- dionisíaca que construiu os Stones tal como os conhecemos, houve um tal de Brian Jones a pegar na guitarra. E no teclado. E na harmónica. E na cítara. Até desaparecer, perdido nos vícios de quem se sentiu ultrapassado pela máquina de construir canções ‘Jagger & Richards, Inc.’ – até ser escorraçado e, enfim, morrer afogado numa piscina.
Mas Brian Jones deixou um legado: The Rolling Stones [England’s Newest Hitmakers nos EUA] (1964), o álbum de estreia da banda, é todo ele um diálogo entre Jagger e Jones, entre a voz e a sua guitarra. No tempo em que fazer versões não ficava mal a ninguém, este é um álbum de covers de canções dos primórdios do R&R dos EUA (Buddy Holly, Chuck Berry, Willie Dixon ou Bobby Troup). E eu, que não sou fã de quem se serve do material dos outros, tenho de reconhecer que a “Route 66” é melhor do que a original, cantada por Troup – porque a voz de Jagger, não sendo a mais afinada que Deus plantou no planeta, tem um je ne sais quoi que a imortalizaria.
The Rolling Stones é um álbum clarinho como a água do pacífico californiano, que segue direto ao ouvido, sobretudo para quem o ouve a esta distância e conhece as faixas que lá estão antes de os Stones a terem gravado à sua maneira. Depois, há a “Tell Me”, a primeira marca registada dos Stones, composta por Jagger e Richards (quem quiser vê-los, novinhos e super limpos, é clicar aqui), com sobreposições de vozes e do refrão, num estilo canon. Simples e aberto, longe do Belzebu com o qual Jagger e Richards viriam a negociar o futuro da banda.