Se todos temos um pouco de génio e de louco, Pharrell Williams parece ter generosas doses de Peter Pan dentro de si. Aos 41 anos e com mais de duas décadas de carreira, o músico, cantor, rapper, produtor e compositor, continua com uma carinha (e corpinho) de vinte e tais, fintando como ninguém a passagem do tempo, enquanto fabrica consecutivamente êxitos da pop, hip-hop, funk ou R&B.
Mas quase toda a carreira de Williams foi passada atrás da cortina. Formou com Chad Hugo os The Neptunes para compor e produzir sucessos que ficaram para a história da pop. De Britney Spears a Snoop Dog, de Justin Timberlake a Jay-Z ou de Nelly a Gwen Stefani, todos artistas que viram a sua colaboração com Pharrell vingar nos mais relevantes tops da indústria musical. Pelo meio ainda houve tempo para formar os N.E.R.D. – quem não se lembra de balançar ao som de “She Wants to Move”? – que serviu acima de tudo para projectar o nome de Pharrell Williams para a ribalta. Contudo era na sombra que ele preferia estar e onde a sua criatividade mais se manifestava.
Só que entramos no ano de 2013 e Pharrell resolve sair dos bastidores e voltar a entrar em palco. Primeiro como actor secundário, colaborando com os Daft Punk em “Get Lucky”, a música do ano, e depois com Robin Thicke em “Blurred Lines, aquela que seria a música mais polémica do ano, não fosse a existência de Miley Cyrus. Mas logo surpreende tudo e todos com um papel principal em “Happy” (gravado para o filme de animação “Gru – O Maldisposto 2”) e todo um videoclip com uma duração de 24h, que pôs o mundo inteiro a cantar e a dançar.
Obviamente que “Happy” faz parte de G I R L, o álbum fresquinho que realmente vos traz aqui. Este primeiro single é irresistivelmente optimista e o maior sucesso a solo de Pharell Williams até ao momento. Mas parece um tanto ou quanto perdido no meio das 10 faixas que compõem G I R L, o segundo disco de originais do cantor. O álbum é uma ode ao sexo feminino. Sexy, cheio de curvas e repleto de R&B, soul e funk, com riffs que lembram os anos 70. Ele admira-as em “Marilyn Monroe” e “Lost Queen” e é mais atrevido em “Hunter”, “Come Get it Babe” e “Brand New”, onde pratica falsetes com Justin Timberlake. Mas também tem um lado mais sensível, quando faz o dueto com Alicia Keys em “I Know Who You Are”.
A atracção por elas sente-se em cada música. G I R L não é uma obra-prima nem transformadora, mas ressuscita o groove clássico da música negra, mãe da eterna sensualidade. Sexo e sedução mas com amor e respeito.