Devo começar esta crítica por vos dizer que tudo o que vem no seguimento deste texto é altamente faccioso. Os Stones são e serão a minha banda de referência e Keith Richards é o mais próximo de ídolo que tenho.
Por tudo isto peço desde já desculpa por não ser capaz de manter o meu habitual discernimento.
Agora vamos ao que interessa.
Beggars Banquet foi o meu primeiro contacto com os Stones, e tudo por culpa de “Sympathy For The Devil”. Não que seja o meu tema favorito dos mesmos, mas como diz o ditado first love never dies. Já agora, quão ambicioso é abrir um álbum com “Sympathy For The Devil”? É quase um insulto de tão bom que é.
“Please allow me to introduce myself, I’m a man of wealth and taste“. Imortal.
Beggars oferece o que de melhor há nos Stones. Os verdadeiros, ainda com o controverso Brian Jones. Um álbum refrescante, honesto e controverso.
Jones teve, enquanto em vida, o dom de desafiar Jagger e Richards, tirando-os do conforto dos blues e trazer o toque que ambos necessitavam para transformar tudo em Rock. Jones é na minha opinião a única e só razão pela qual os Stones são uma banda de rock.
Fiquem a pensar nisso. Não muito, que às vezes pode ser perigoso.
Na sua totalidade, e resumindo em poucas palavras, Beggars é um álbum de eleição.
Quem nunca ouviu “Parachute Woman”, “Stray Cat Blues”, “Jig-Saw Puzzle” ou “Street Fighting Man” passou ao lado da história do Rock. Simples.
Destaque para “Stray Cat Blues” que foi talvez, na minha modesta opinião, o tema mais politicamente incorrecto dos Stones.
“I bet your mama don’t know that you scratch like that / I bet she don’t know you can bite like that“. Arriscado.
Na atribulada viagem dos Stones pelos anos 60 até chegar a Exile (com Sticky Fingers pelo meio), Beggars ficará como uma das melhores coisas jamais feitas nesta década. Num exercício retrospectivo, este é provavelmente um dos álbuns mais completos dos Rolling Stones. Um autêntico orgasmo musical para que todos fomos convidados.
Temas como “Factory Girl” exemplificam como os Stones se expandem em Beggars. Jones improvisa, Keith deixa tudo para trás e Mick assalta o country com a mais provocante das vozes. Isto são os Stones na sua essência.
“Waiting for a girl and she gets me into fights / Waiting for a girl we get drunk on Friday night“. Quem não se identifica com isto?
De referir também o tema “No Expectactions”, a representação autêntica da obrigatória balada de uma banda de Rock.
“Our love is like our music / It’s here, and then it’s gone”. Genialmente cínico.
Pelo meio, “Dear Doctor” e “Prodigal Son” trazem-nos os blues na sua inteira e original forma, provando mais uma vez que Beggars tem mesmo de tudo. Incluindo temas de que Chuck Berry, Little Richard ou Muddy Waters ficariam certamente orgulhosos.
O disco fecha com “Salt of The Earth” onde os Stones se deixam tocar pelo gospel, em tons político-militares com um sabor a despedida. Uma despedida anunciada mas completamente digna.
“Let’s drink to the hard working people”.
E é isto Beggars, um verdadeiro banquete.