
O dia que ninguém queria que chegasse, infelizmente, chegou: O último dia do Vodafone Paredes de Coura. Apesar de ser o mais calmo (musicalmente falando), o quarto dia foi aquele que teve a maior afluência, em grande parte devido às atuações de James Blake e Beirut.
Antes destes concertos, no entanto, o dia começou com Sequin. Desta vez também acompanhada de um elemento no baixo, o concerto marcado para abrir o último dia do festival teve uma audiência superior à esperada; a própria Ana Miró afirmou, em resposta a um “Ana és linda!”: “vocês é que são lindos, podiam estar no rio a dar uns mergulhos e estão aqui! Obrigada!”. Uma actuação que trouxe ao público maior parte das músicas de Penelope, como “Meth Monster”, “Flamingo” ou “Beijing”,e teve ainda direito a música nova, “SBU”. Com a sua doce electropop cheia de boa energia e beats para dançar no início da tarde, Ana Miró e companhia conquistaram o público do palco Vodafone FM, deixando todos com um sorriso na cara.
De seguida, no palco principal, foi a vez dos vila-condenses Sensible Soccers encherem o ar da tarde com as suas épicas viagens sonoras. Abrindo o concerto com a longa “AFG”, a banda prosseguiu durante cerca de 45 minutos com as suas melodias instrumentais de rock progressivo e psicadélico, que encantaram o público na Praia Fluvial do Taboão.
Depois foi então altura da atuação de um dos destaques do último dia do festival. Kurt Vile and the Violators trouxeram ao final da tarde o seu rock cheio de guitarras folk, com um som docemente psicadélico, para pôr todos a abanar a cabeça de olhos fechados, a captar todas as melodias que daquele palco saíam. Mais uma passagem de Kurt e companhia por Paredes de Coura, mais um concerto muito bom, que teve início com “Wakin’ on a pretty day” e no qual houve espaço para os êxitos “Jesus Fever” ou “Baby’s Arms”. Só é pena a sua curta duração, que não permitiu a interpretação de certas músicas como “Runner Ups” ou “Snowflakes are Dancing”; mais 40 minutos e seria um sério candidato a melhor concerto do festival.
Goat foi a apropriação cultural desmedida em forma de culto a milhões de deuses. O grupo psicadélico sueco trouxe a Paredes de Coura anantes e gigões, aranhas e dragões que arrancaram a colina e fizeram-na voar e rodopiar até ao Olimpo. Com burkas, máscaras e vestes tribais, os Goat levaram a cabo uma orgia de Jimi Hendrix Experience com todos os pós de estrelas que pairam no universo. As canções – que carregavam sempre longos períodos de improvisação e dança – que levaram mais o público ao delírio foram “Diarabi” e “Run To Your Mama”, do disco de estreia World Music, sendo que todas as outras receberam grandes ovações. Além das canções do disco de 2012, os suecos também nos deram um cheirinho de Commune, que sai já dia 22 de Setembro (e promete).
Era então chegada a vez de um dos concertos mais aguardados do festival: Beirut. E, como das outras vezes, não desiludiram e eles mostraram o seu amor por Portugal (e pela língua portuguesa, que fala muito bem), que os faz serem igualmente amados pelo público nacional, que cantou o concerto todo com Zach Condon e companhia e os apladiu sempre muito alto. Escusado será dizer que não foram esquecidas “Santa Fe”, “Postcards from Italy”,“Elephant Gun”, “East Harlem” ou até “Nantes” e Zach até se atreveu a cantar o primeiro verso de “Leãozinho”, embora não tenha ido mais longe do que isso. Assim, com as suas músicas doces feitas de sons de todo o mundo, os Beirut confirmaram a relação especial que mantêm com o país, dizendo: “Portugal é constantemente o melhor público que nós temos!”
Depois teve lugar a actuação do cabeça de cartaz da noite, o britânico James Blake. Concerto onde não faltaram “Lindisfarne” (I e II), “Digital Lion”, “Overgrown”, “The Wihelm Scream” ou a conhecida cover de “Limit To Your Love” e cujo espaço foi elogiado pelo músico (“Este sítio é maravilhoso, acho que consigo ver-vos a todos). Apesar do belo concerto que deu, não conseguiu convencer toda a gente da mesma forma, tendo até que gravar o loop de “Measurements” (com que acabou) várias vezes por falta de silêncio. James até pediu desculpa uma das vezes, dizendo que talvez fosse sua culpa “por não falar português”. E sorrindo, lá conseguiu acabar o concerto. Um concerto leve e equilibrado que, na madrugada fria de domingo, encheu as medidas, embora não mais que isso.
Mais tarde ainda, James ainda actuou, ao lado de outros produtores de música electrónica, no formato de DJ set 1-800 Dinosaur.
E foi assim que terminou mais uma edição do Vodafone Paredes de Coura, no qual se destacaram, nas bandas nacionais, as atuções de Linda Martini, Sequin e Sensible Soccers, e, nas bandas internacionais, os concertos de Goat, Cage the Elephant, Mac DeMarco, Thee Oh Sees, Black Lips, Kurt Vile and the Violators e Beirut. Quanto à organização do evento em si, esta apresentou-se quase sem defeitos, havendo apenas a criticar o elevado volume do som em quase todos os concertos no palco Vodafone FM.
O festival regressa para o ano de 19 a 22 de agosto, no sítio de sempre. Até lá!
Texto: Luís Marujo, Beatriz Pinto e Francisco Marujo
(Fotos gentilmente cedidas por Hugo Lima)