
Estamos de volta para mais um dia do Vodafone Paredes de Coura. Neste dia, 21 de agosto, o cartaz foi marcadamente dedicado à música dos Estados Unidos da América. Desde surf rock a americana, houve um pouco de tudo.
Apesar da predominância de bandas dessa parte do mundo, a abrir o palco principal tivemos os portugueses X-Wife. De regresso ao mundo da música, depois de um hiato de três anos, os portuenses mostraram-se frescos e cheios de energia no final da tarde de sexta-feira. Com o novo single (“Movin’ Up”) a começar a encher o tempo de antena das rádios nacionais e um álbum de originais, o primeiro em quatro anos, à espreita, a banda não desiludiu aqueles que chegaram cedo ao recinto. Embora não estivesse a casa cheia, o que é certo é que quem estava lá não conseguia não se mexer ao som do dance-rock da banda, a fazer lembrar LCD Soundsystem ou The Rapture. Um concerto feito em jeito de best-of, sempre de boa-disposição (João Vieira fartou-se de agradecer aos presentes) e a prometer um futuro auspício para a banda. Assim seja.
Depois da animação que foi o concerto dos X-Wife, era hora dos Allah-Las subirem ao palco principal do Vodafone Paredes de Coura. Os californianos entraram e deram de caras com uma plateia enorme e ansiosa por os ver (bastou ouvir a salva de palmas que os recebeu). “We’re so happy to finally got to come to Portugal” disse o cantor e guitarrista Miles Michaud ao final da primeira canção. E então, ao longo de uma hora, o grupo mostrou o seu novo álbum, Worship the Sun, ao público nacional, sendo as músicas sempre bem acolhidas e aplaudidas com fervor. Com a reverb sempre no máximo, o surf rock solarengo dos Allah-Las deu um bom toque ao crepúsculo. Surfou-se nas ondas sonoras, público (sempre a ajudar com coros e palmas quando possível) e banda de mãos dadas pelo ar fora. Um espetáculo bonito, a que faltou, no entanto, um daqueles instrumentais bossa nova que eles tão bem sabem fazer.
Por volta das 21h20 começava o concerto mais fora do cartaz deste ano do festival. Mark Lanegan e companhia trouxeram a sua música negra e misteriosa ao palco Vodafone, mas o ex-QOTSA não conseguiu convencer o público festivaleiro. Noutro sítio, mais adequado ao misticismo que envolve a sua americana desértica e sombria, a sua voz áspera e profunda teria ecoado de outra forma nos ouvidos dos presentes. Ainda assim, fica a nota de várias músicas muito interessantes e que merecem outra audição mais atenta.

Depois do arrefecer dos ânimos que foi o concerto de Mark Lanegan, a noite estava a precisar de algum calor. Foi aí que Charles Bradley, acompanhado dos seus Extraordinaires, entraram. Depois de uma abertura instrumental, um MC espicaçou o público para acolher o maior “party man” das redondezas com clamor e vivacidade. Então, sob uma enorme salva de palmas, entrou em palco o mais caloroso artista deste festival. Oscilando entre músicas dos seus dois álbuns, No Time for Dreaming e Victim of Love, Charles apaixonou-se pelo público e inúmeras vezes disse fervorosamente “I love you!”. Com uma banda de músicos extremamente talentosos atrás de si, o senhor Bradley puxou da sua voz absolutamente incrível para dar ao público do festival um dos melhores concertos do festival. A sua paixão ardente pela música, a alma que põe nela não deixou ninguém parado ou sequer indiferente à sua mistura de soul e funk. Do alto dos seus 66 anos, o americano tem uns moves de dança que deixariam corada qualquer senhora respeitável e cheio de inveja qualquer cavalheiro e que puseram muito bem dispostas as gentes do festival Vodafone Paredes de Coura. Sempre emocionado com a imagem que tinha a sua frente, o artista levou o público por uma viagem a outros tempos, em que o “amor era o amor” e nada mais. Antes de concluir o concerto, Charles não quis deixar de explicar a sua pessoa; “I’m all about real love” disse. Não que precisasse, porque já todos o tínhamos sentido, mas ouvi-lo sabe sempre melhor. E foi sexy, naughty e com muitos abraços e beijos para a primeira fila (que, no entanto, sabíamos ser para todos) que o senhor Bradley findou o melhor concerto da noite e a sua segunda passagem por Portugal; que venham muitas mais.
Por fim, subiam ao palco os The War on Drugs. Ao longo da hora e meia que durou o concerto, a banda, com a sua música americana disfarçada com todos os efeitos que embelezam as guitarras e os teclados, pegou no público e levou-os numa viagem pelas retas infinitas da Terra dos Livres. Passando pelas mais antigas “Arms Like Boulders” ou “ Baby Missiles”, os americanos mostraram ao público o mais recente álbum Lost in the Dream. Músicas pulsantes e ardentes (“Ocean in Between the Waves” ou “Burning”), solos intermináveis, mágicos e de muito bom gosto (“Disappearing” ou “Eyes to the Wind) e muitos saltos e felicidade, com especial ênfase em “Red Eyes”, pontuaram este concerto, onde o destaque vai para as absolutamente belas e sonhadoras “Under the Pressure” e “In Reverse”. Um concerto que mantém a fama da banda como sendo bastante talentosa ao vivo, mas na qual Adam Granduciel pareceu um bocado distante do público, que aplaudiu sempre com muita intensidade no final das músicas.
Foi então assim que “terminou” (ainda houve Tanlines e Richard Fearless no palco secundário) mais um dia do Vodafone Paredes de Coura, terceiro do festival. Amanhã despedimo-nos, mas não sem uma mão cheia de concertos que esperamos que sejam ótimos.
Fotos gentilmente cedidas por Hugo Lima