
CACHUPA: coloca-se numa panela a carne em pedaços o bacon um pé de porco e os chouriços pimenta sal ou caldo de carne, na panela de pressão coloca-se durante meia hora os grãos de milho e os feijões cobertos com água uma cebola um fio de azeite uma folha de louro e sal, depois numa panela maior colocam-se os feijões com o milho cobre-se com água e põe-se no lume a ferver, acrescenta-se então a carne marinada e quando tudo está quase cozido acrescentam-se as batatas e a couve, PSICADÉLICA, sim está bem, não sei, essa coisa da música para fazer a fotossíntese, o site do Musicbox sugeria uma confluência de influências de rock de Seattle com sons crioulos mas isso é tipo bué naquela, ou seja sim claramente um projecto de alguém que já respirou ares diferentes o suficiente para que as composições de tonalidades tão híbridas lhe saiam com uma harmonia admirável para tão novo projecto, era fechar os olhos e o corpo oscilando em baloiçares uns verticais e outros tipo horizontais, eram folhas de árvore a correr num rio, eram nuvens brancas daquelas das boas e não das pretas carregadas d’água, eram cançonetas de eu estendido na relva, eram cançonetas de gosto de ti e no meio sim uma África rendida a uns efeitozinhos de delays e coisas assim que não aleijam ninguém, muito bom.
TV RURAL, há uma coisa que até irrita, o nome da banda coloca-a (à banda) no lugar em que ela pediu para ser posta ou seja, entenda quem queira. Uma banda de um dois três, o espectáculo vai começar não quero os pés assentes no chão isto é tudo meu, eu que já não vou a tantos concertos do pop-rock, com putos e não putos ansiosos pelas guitarradas e os gritos de um conjunto que tem mesmo aquela alma de conjunto, assim à antiga, como nos tempos da tv. Depois de tão completa e esmiuçada crítica ao último EP da banda, e, não querendo criar guerrilha, limito-me a mandar para o ar uns aviõezinhos de papel opinativos por exemplo, cheios eram os momentos em que os cinco cantavam todos juntos, em uníssono, como nas tunas (das boas, não daquelas ai-jesus que os mandam pá água), a preocupação dos cinco microfones, à antiga, como nos tempos da tv. Também gostei do bem-estar daquelas pessoas que me pareceram ser os melhores amigos do bairro, banda de bairro, à antiga, como nos tempos da. Dizem que o rock faz inimigos, aliás não sei se dizem, mas eles funcionaram bem na tarefa de fazer amigos com o público. Claro que depois à minha direita tinha umas ex-alunas da católica que meio viradas de costas continuavam a berrar as conversas do jantar ali acima no Chiado e à minha frente uma tipa com dois telemóveis um para mensagens outro para fotos e vídeos, já que tudo é a mesma coisa hoje em dia, sim o público também faz parte do concerto. Um aparte, não tenho tido estômago para comer o que tens para dizer, e infelizmente um pequeno senão: o povo pediu, o povo até tinha merecido, a banda tinha igualmente merecido que o povo continuasse a pedir, e eles voltaram para um encore que mais valia não ter acontecido, pois sem mais músicas planeadas, espaço se poderia abrir para qualquer coisa qualquer cover qualquer improvisação quaisquer combinações de quatro acordes chapa-três, não interessava bastava desde que houvesse input criativo, mas jogaram pelo seguro e terminaram o concerto numa versão cansada e afónica da primeira música do concerto, e a pedra foi dor entranhada na pele.
Numa altura em que o rock está tão triste que até andam por aí todos aqueles orgulhosamente luso-cristãos/agro-betos a chamar-lhe rock com quê de quá-quá, os TV Rural teriam facilmente o caminho aberto para um lugar de destaque no panorama nacional se algum dia se interessassem por isso e se fizessem à pista e engolissem uns sapos. E o bom é que acho que não o querem muito, é que depois acabariam a dar concertos em festivais para gente estúpida que certamente iria pensar que o “quero trincar os teus ossos e roer-te os nervos enquanto troveja” seria uma música para um filme de vampiros adolescentes (e se calhar até é e eu pr’áqui a fazer figura de estúpido).
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(Fotos: Rogério Ribeiro)