Já cá estamos. Meco e Sol, desde manhã, o rock’n’roll está agora a começar.
No palco principal tocam nesta altura os Vintage Trouble, em modo aquecimento para uma noite que tem como destaques principais os Tame Impala, Metronomy, Massive Attack e, para fechar a noite, Panda Bear e Disclosure.
Ao longo da noite vamos relatando aqui o que se vai passando nesta que é a edição que comemora os 20 anos de SBSR.
Vintage Trouble: Fazem jus ao nome. Fogosos, excêntricos, calorosos. Apenas alguns adjectivos com os quais poderíamos descrever o concerto que deu sinal de arranque para o que virá a ser a vigésima edição do festival. Vintage Trouble chegaram de outra época para os dias de hoje carregados de mãos-cheias de energia para dar e vender ao público que, embora tímido em número, vibrou com o desempenho – por vezes sério, por vezes matreiro, mas sempre sentido até à última gota de suor pelo dinâmico vocalista Ty Taylor. A banda californiana de Blues Rock aterrou no Meco para um concerto repleto de boa música e bom ambiente; aperaltados, sedutores e sempre cegamente devotos à audiência, entregaram-lhes às mãos um punhado de temas vitaminados e pujantes que lançaram a multidão num frenesim bem-disposto.
Erlend Øye: É dificil dissociar dos Kings of Convenience a música que ouvimos dele. Ainda assim, o músico está agora a trilhar um caminho mais de cantautor, com mais baladas quase acústicas. Neste belo fim de tarde, oferece-nos canções inéditas, do disco a solo que vai editar em breve. Sorrisos e conversa de amigos no final de tarde que iniciou esta vigésima edição do Super Bock. Depois da passagem pelo Mexefest, em Dezembro, Erlend Oye trouxe de novo dois companheiros que o ajudaram na sua tarefa de fazer música bonita sem ruído, já que o seu recém-diagnosticado problema nos ouvidos não permite muitos decibéis. Guitarra acústica limpinha, flauta transversal, cabelos, óculos, barbas. Depois do frenesim dos Vintage Trouble, foi bom acalmar os ouvidos e os ânimos, imediatamente antes de partir para Metronomy.
Metronomy: O sol desaparecia enquanto a banda britânica, que regressa a terras lusas após a sua curta visita ao festival Optimus Alive em 2012, se apresentava elegantemente em palco. O pôr do astro acompanhou o concerto, mexido e agradável como a banda já antes provara capaz de entregar. Mesmo sem conseguir saltar a barreira do espectacular (que seria mais tarde arrombada com uns arrebatadores Massive Attack), deixaram o público a baloiçar de sorriso de orelha a orelha ao som dos teclados alegres e baixo saltitante. Os momentos altos da festa incluíram uma breve passagem por temas já conhecidos de álbuns anteriores, como “The Look”, “Everything Goes My Way” e um sempre recebido de braços abertos “The Bay”. A banda aproveitou maioritariamente para promover o seu novo trabalho, tocando temas como “Love Letter” e “Aquarius”. Não nos importamos; mas dispensamos quando existe tanto melhor.
Jake Bugg: Tarefa ingrata, isso de tocar à mesma hora de Tame Impala? Nada disso. Jake Bugg já tem a sua legião de fãs, e mesmo tocando à hora de um dos cabeças de cartaz, conseguiu ter sala cheia no seu concerto. Nas primeira filas, um bando de garotas aos guinchos, a gritar as letras, prontas a fazer qualquer coisa pelo seu pequeno ídolo. Pequeno porque Bugg ainda tem uns 22 ou 23 anos. Pode não ser um génio criativo, mas pelo menos consegue chegar aos corações de uma certa geração.
Tame Impala: Quem os viu e quem os vê. Com uma passagem pouco marcante pelo Optimus Alive, em 2013, os australianos provaram hoje, no Meco, que são de facto os reis do revivalismo psicadélico que tem marcado os últimos tempos. Com Kevin Parker à cabeça numa jam incrível, o concerto começou como o último disco, Lonerism, com “Be Above It”. Guitarras e teclados cíclicos, que nos transportavam para o meio de constelações e galáxias, ainda que com os pés bem assentes na terra da Herdade do Cabeço da Flauta. “Solitude Is Bliss” levava-nos ao primeiro disco, Innerspeaker, sem grande fervor, a par de “Why Won’t You Make Up Your Mind” e “It Is Not Meant To Be”, que despertava o coro dos fãs mais dedicados. Em “Elephant”, foi a altura de tirar a roupa. Um baixo e uma guitarra pujantes e gritantes, cantadas a plenos pulmões pelo público que cada vez mais vibrava com as projecções e as sensações que eram disparadas directamente à cabeça dos militantes mais fiéis. Em “Mind Mischief”, a banda partiu directamente para a parte que interessava, onde os teclados tomavam o lugar da guitarra para dar o mote aos beijos dos casais apaixonados polvilhados pela plateia, elevados acima do Olimpo, de braços dados com Afrodite, em viagens inacreditáveis orquestradas pelos meninos de ouro da música psicadélica. Com “Apocalypse Dreams”, as explosões de energia, cores e notas musicais anunciavam o final do concerto, que também contava com “Feels Like We Only Go Backwards”, que como esperado foi a que se ouviu mais no público.
Massive Attack: Após longos anos de ausência e espera, o duo de Bristol voltou a pisar os palcos lusitanos. A fazer a ponte entre os psicadélicos Tame Impala e os electrónicos Disclosure, Robert Del Naja e Grant Marshall não deixaram de impressionar, algo a que já nos acostumaram noutros anos longínquos. Não se deixando corromper pelo tempo e pelo crescimento que tiveram desde o começo em 1988, os britânicos bombardearam o público de vídeos interventivos minuciosamente escolhidos, que incluíam títulos em português de notícias recentes, dos conflitos em Israel e na faixa de Gaza a declarações de Edward Snowden e inúmeros políticos americanos e britânicos sobre guerra e poder (e até mesmo de dirigentes portugueses). Um espectáculo não só musical (já lá vamos) mas também visual, que não olhou a meios de criticar sistemas financeiros e políticos, práticas de conflito e consumo, a era da informação desmedida. Quanto à música, essa, foi sempre sendo trocando entre as mais introspectivas e antigas “Angel”, “Teardrop” e “Inertia Creeps” e as mais recentes e esquizofrénicas “Girl I Love You”, “Psyche” e “Paradise Circus”. Seguramente o melhor concerto do dia e muito possivelmente o melhor que assistiremos no festival. A ver.
Disclosure: Para terminar em beleza, mais um duo britânico a fazer das suas. Electrónica pulsante e energética até ao tutano, feita com instrumentos a sério. Não faltaram “When A Fire Starts To Burn” nem “White Noise”, sendo que esta última teve direito a uma falha no som do palco que ainda durou cinco minutos. Mas a banda fez como se nada tivesse acontecido e, com o apoio dos fãs, rapidamente voltou à carga com novas canções que fizeram a multidão regressar aos saltos e gritos. Não desiludiram e souberam ser profissionais quando as coisas correram menos bem, não deixando de lado o companheirismo com o público.
No segundo dia, apesar de um palco principal menos sólido, teremos muito pra ver e comentar. Mas antes, descansar do fortíssimo alinhamento ao qual os festivaleiros tiveram direito hoje, para abrir o certame em bom. Até logo.
Texto: Beatriz Negreiros, Francisco Marujo, Duarte Pinto Coelho || Fotos: Francisco Fidalgo, Duarte Pinto Coelho